Aquela idosa frágil e meiga que faz guloseimas num domingo à tarde, não, está longe de ser o perfil da minha vó, pelo contrário, recordo-me de uma mulher forte, valente e corajosa, de fala firme e às vezes dura, sem beijos e abraços, entretanto com um zelo familiar invejável!!!

Olhava-a de baixo para cima, por conta da minha pequenez. Uma vez ou outra, conseguia permissão para acompanhá-la em seu mórbido e preferido passeio: funerais!!! Ela gostava, eu em tenra idade, nada sabia, só queria ir com a vovó.

 Em um tiro de flecha chego ao portão velho de madeira, seguro em sua mão e lá vamos nós.

Notícia ruim corre longe, dessa forma o alarde do morto chega aos quatro cantos da cidade de Governador Valadares, bairro Santa Rita, especialmente na Avenida Wenceslau Brás n°2.410, endereço memorável.

Onde será o velório? Época em que o falecido era colocado na sala de sua casa, com velas ao seu redor e um ventilador aos seus pés para o ar circular, parece sombrio…? Deveras, no entanto, era costume.

Dentre vários programas desse tipo, destaco o que causa  pavor, medo e horror, a ponto de não lembrar mais a emoção de perambular com ela em busca de diversão.

Era tardezinha, caminhamos toda vida em busca do desalmado, detalhe, quase sempre era desconhecido, acho ser vício ou sadismo mesmo, andar longe pra ver: caixão, dor, sofrimento, ou será não ter outra distração? Sei lá… 

Uma casa pequena, gente amontoada na sala minúscula, ela com olhar curioso por cima dos ombros do povo e com as unhas na boca: Morreu de quê? Pergunta. Afogado, alguém responde.Fico no quintal enquanto ela entra pra ver de perto e continuar o interrogatório. Você viu? Ficou feio!!! Ouço o balbucio, decido não ver. 

Neste exato momento as pessoas que atolavam a porta se afastam justamente na direção do caixão, vejo sem querer ver, me apavoro: a cabeça inchada, roxa e semblante aterrorizante, meu coração salta do peito e o terror possui minha alma!!!