A tarde caía após um dia de estudos longo e cansativo.  Quero apenas um colchão macio ou quem sabe uma água quente para relaxar, a mente exausta dá sinais de que é preciso desacelerar. No celular chega a mensagem: “Alguém vai à manifestação?”. 

De repente, os ânimos se renovam. Cato a mochila. Não posso me atrasar! Exclamo com os dedos inquietos: “Tô no Bernardão. Espera cinco minutos, já vou chegar!”. Em tempo recorde, estou em meio aos protagonistas do movimento em defesa da educação. Das quatro pilastras partimos em direção à Câmara dos Vereadores, e de lá até a Prefeitura.  

No horizonte vejo: bandeiras, faixas, corpos, ideias e universos.  Um raio de sol despenca das nuvens cinzas e desfila a P.H. Rolfs iluminando o caminho para o comboio. Nos cartazes, palavras de ordem. Nos rostos, confiança e determinação. Os sons se recarregam nos pulmões em forma de protesto. 

Que energia contagiante! Sem perceber, estou na linha de frente carregando uma faixa, enquanto acompanho meus colegas gritando feito torcedores de futebol.  Todos param para olhar, tiram fotos, gravam vídeos, alguns oferecem apoio, outros são contra. Seguimos sem desanimar, subindo ruas e atravessando cruzamentos.

Próximo ao destino final, as vozes falhadas e os músculos exaustos juntam-se mais uma vez. O corpo tira da alma seus últimos recursos para protestar. O barulho é intenso, os instrumentos não se preocupam em criar uma melodia; cada um em seu próprio tempo e ritmo chama a atenção de quem passa por ali. Assim permanecem durante algum tempo até que o silêncio toma conta. Os manifestantes se dispersam; a missão está cumprida. Olho para trás. As ruas estão cheias de esperança, vontade e, principalmente, coragem para mudar.