O nome dele é João Batista (mas ele me disse que não gosta do sobrenome). A um olhar desatento, tem cara e jeito de pessoa tímida, um ledo engano que percebi em cinco minutos de conversa. Num piscar de olhos, ele se solta, encara, gesticula. Quando percebo, já estamos fazendo piada e trocando alfinetadas.

No silencioso térreo do Departamento de Biologia, o tamborilar infinito dos dedos dele na mesa ecoa enquanto ele me revela que quer mudar de curso – sua mente agitada e criativa não se encontrou no Serviço Social. E, claramente com a cabeça a mil por hora,  logo após a confissão ele me chama carinhosamente de “jovem cansada”, pois a ideia de nos sentarmos numa mesa ao invés do chão partiu de mim, alegando que minha coluna não aguenta mais. Mais tarde, porém, neste mesmo dia, ele ironicamente  iria me contar sobre como precisa operar o joelho por romper um ligamento jogando bola – uma antiga, mas agora adormecida paixão. Para ele, agora, futebol é só o que o Cruzeiro joga. 

João mantém uma santa tranquilidade (seria o mal do nome?) enquanto transita sobre todos os assuntos possíveis em um curto espaço de tempo. Volta e meia, fala da família: a mãe vigilante, o irmão agitado. Problemas e como lida com eles. Dá de ombros: “faço as coisas com carinho”. Seriedade e bom humor visitam seus olhos. É muito verdadeiro sobre como lida com os sentimentos – foi esse coração que ensinou seu grande parceiro, o pai sério e distante, a dizer “eu te amo”.