Viçosa caminha para ter menor índice de crimes violentos dos últimos 10 anos

Reprodução: Prefeitura de Viçosa

Por: Gabriel Felix Costa.

Até outubro de 2023 foram registrados 111 crimes violentos na cidade de Viçosa, menor número dos últimos 10 anos. Anteriormente 2021 era o ano com menos ocorrências desse recorte, com 170 casos, já o maior foi 2017, com 517 casos, assim como mostram os dados do portal da transparência do estado de Minas Gerais, base de dados essa que foi fonte de todos os gráficos desta reportagem. 

Foram analisados dados de 2023 até 2014, o estado de Minas Gerais classifica como crimes violentos 13 tipos de infrações, sendo elas: Estupro de vulnerável consumado, Estupro de vulnerável tentado, Estupro consumado, Estupro tentado, Extorsão consumado, Extorsão mediante sequestro consumado, Extorsão tentado, Homicídio consumado, Homicídio tentado, Roubo consumado, Roubo tentado, Sequestro e cárcere privado consumado, Sequestro e cárcere privado tentado. Vale ressaltar que quando não diferenciado em consumado e tentado, o número mostrado na reportagem é o número bruto da união dessas duas categorias.

O grande diferencial dos dados de 2023 é a queda no número de roubos registrados, que até o momento representam menos de 50% dos de 2022, impactando diretamente na diminuição da estatística geral. 

Vale ressaltar a diferença entre roubo e furto, furto é tipicamente caracterizado pela subtração de bens de outra pessoa sem que haja emprego de violência ou grave ameaça contra a vítima, geralmente feito de forma escondia, já o roubo envolve a mesma subtração, mas com o uso de violência, ameaça ou intimidação para coagir a vítima ou terceiros a entregarem os bens, por esse motivo essa infração é classificada como crime violento.

Outro dado que mostra como a queda considerável no índice de roubos impacta muito no quadro geral, é o fato dessa infração já ter representado 86% dos crimes violentos do ano por duas vezes, isso em 2016 e 2018, já em 2023 ela representa 52% das infrações do recorte. 

Portanto, infelizmente nem todos dados apresentaram queda , os outros tipos de crime não acompanharam a diminuição dos roubos e continuaram bem semelhantes ao dos outros anos do recorte, com o destaque negativo para a taxa de homicídios, que vem aumentando nos últimos 2 anos e em outubro de 2023 registra 41 casos (26 homicídios consumados e 15 tentativas de homicídio).  

Qual a percepção da população sobre esses dados? 

Com os dados analisados nossa equipe de reportagem foi ao calçadão, no centro de viçosa, coletar a percepção dos moradores da cidade sobre os fatos abordados. Perguntamos se eles perceberam a queda no número de roubos, o aumento dos homicídios, e o que falta para melhorar a segurança de viçosa?

Fátima, 57 anos, ficou surpresa com os dados apontarem um recorde no recorte, mas disse que percebeu sim a queda no número de roubos e que ao longo do ano também notou o aumento dos homicídios na cidade, colocando em destaque a luta contra a drogas para resolução da problemática.

Jean tem 45 anos e é vendedor no calçadão de Viçosa, na percepção dele a criminalidade só vem aumentando com o passar dos anos, o homem também relata que o aumento nos homicídios em 2023 foi bastante evidente para ele, cobrando o aumento no policiamento.

Glaucia Maria, é aposentada e tem 70 anos, ela relata não ter percebido queda na criminalidade e é outra morada que diz ter sentido aumento no número de homicídios, vendo constantemente notícias sobre nos jornais. Perguntada sobre o que falta para melhorar a segurança de Viçosa. a mulher disse que falta educação e empregos na cidade.

Estela, 28 anos, relatou não ter percebido diminuição na criminalidade, além disso, citou que em sua percepção os homicídios aumentaram na cidade, tendo visto muito no jornal notícias sobre nesse ano. Para melhora na segurança a jovem citou que deveriam investir mais em câmeras e ter mais rondas polícias, mas também abordou a problemática da educação, dizendo que falta oportunidades e incentivos para pessoas mais carentes.

Por último conversamos com Maurício Carvalho, contador de 61 anos, que relatou não ver diminuição na criminalidade, na percepção dele está tudo aumentando, sobre os homicídios o homem disse que foi muito perceptível para ele o aumento, pois todo dia via notícias sobre no jornal. Como principal agravante da problemática o senhor não citou a segurança mais sim os casos de segregação e diferenças de classes na cidade.

“Os jovens da periferia não têm acesso à universidade nem para lazer, na minha época eu utilizava todas a instalações esportivas da UFV, era como o quintal da minha casa, hoje parece que está tudo fechado para esses meninos, o esporte poderia ajudar na integração dessas pessoas…” 

O que a Polícia Civil de Viçosa tem a dizer?  

Em entrevista o Delegado dr. José Donizetti, respondeu alguns questionamentos sobre os dados abordados na reportagem e sobre a percepção dos cidadãos.

Inicialmente o Delegado explicou quais ações impactaram na queda dos roubos.

“São 3 ações tomadas aqui em Viçosa nos últimos anos que levaram a queda no número de roubos na cidade. A primeira é a atuação mais presente da Polícia Militar nas ruas através de policiamento ostensivo, principalmente na área comercial que é onde o roubo tem mais chances de ocorrer. A segunda ação, é a atuação da parte investigativa, pois assim que a infração ocorre e há elementos para apurar a autoria, a investigação caminha para uma possível prisão do autor ao fim do processo, o que desestimula o roubo. Juntamente a esses dois fatores, a instalação das câmeras da Camerite em Viçosa vem impulsionando muito as outras duas ações, impactando diretamente na diminuição dos roubos, pois com as filmagens os autores são facilmente identificados e localizados no processo investigativo, e dependendo a Polícia Militar poder ser acionada em tempo real do crime com o uso das câmeras, desta forma, sabendo que estão sendo filmados, os infratores ficam com muito mais medo de praticarem os atos.”

já sobre o aumento no número de homicídios em 2023, e porque as outras infrações, como estrupo e o próprio homicídio, não acompanharam a queda dos roubos, ele nos explicou o seguinte:

“Na verdade não houve aumento. Em 2015 e 2017 tivemos taxas superiores as de 2023, o que houve foi que em 2021 tivemos uma baixa muito significativa, e em outros anos como 2019, 2020 e 2022 o número de homicídios foram constantes e não tão altos, semelhantes aos de 2023, pois se formos comparar com cidades da região como Ubá e Muriaé, a taxa de homicídios em Viçosa é menor.”

“Sobre as ações que impactam os roubos não terem afetado os homicídios e estupros, é muito simples, é porque são crimes muito diferentes, as ações que impactam a queda no número de roubos não conseguem impactar tão diretamente nessas outras infrações. O policiamento ostensivo não consegue impedir na maioria das vezes que esse crime ocorra, mais de 95% dos casos de estupro, por exemplo, são em ambientes fechados, o que pode ser feito é a instauração da investigação para levar o autor até a justiça. O homicídio é quase a mesma coisa, como o policiamento ostensivo vai impedir um homicídio fruto de uma brigar entre vizinhos na zona rural? não tem como, até mesmo na zona urbana é difícil, essa infração em Viçosa na maioria das vezes é fruto da rivalidade entre dois elementos, não dá prever, o que podemos fazer é apurar e prender o autor, dependo do poder judiciário para deferir ou não a prisão do infrator.”

Por fim, questionamos o Delegado sobre o porquê da percepção da população indicar o contrário dos números.

“O que ocorre é uma falsa sensação de insegurança, as vezes um homicídio é veiculado tão intensamente pela mídia que aquilo fica na cabeça do cidadão, cria um medo, pois como já foi dito aqui, até outubro foram registrados 26 homicídios consumados na cidade, número que se for comparado ao de cidades parecidas com Viçosa na região, verifica-se que estamos sim abaixo da média.”

“Na prática as pessoas estão sim mais seguras, mas se sentem inseguras devido a forma como a informação chega até elas, muitas vezes através de mídias sociais sem compromisso com apuração, reportagens tendenciosas e grupos de WhatsApp, neste último eu já vi falarem que havia ocorrido um tiroteio e um certo bairro, mas na verdade eram fogos de artifício.”

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