Mariana para além da sala de aula.

  ‘Desde que você tenha amor pra dar, ela tem amor a oferecer’ com uma certa convicção particular, Thais Brunelli definiu Procópio. A frase, da ex-aluna,  apesar de simples, deu todo sentido a Mariana. 

    Sentada e nervosa, começo:  ‘ Então Mariana, eu queria te pedir…. mas eu super entendo se você não quiser, é um direito seu, claro! Mas é que se tudo bem para você eu pensei em falar sobre você em um perfil” sorri com a boca quase desfazendo, pelo nervoso das últimas palavras.

     Os olhos calmos me analisam, piscam e então ela, tranquila, começa “Claro, só não creio que eu seja a pessoa importante para Viçosa que você procura” putz, eu falei disso né? Disse tanto que já não lembro… mas ouvi um ‘claro’? Sentada à minha frente, com uma blusa no exato tom de amarelo do contorno do quadro, ela dizia humildemente ‘sim’ ao pior pedido de entrevista que já recebeu.

   Enquanto as palavras vão e vêm, Mariana Ramalho Procópio Xavier passa a revelar com graça detalhes que previamente ouvira sobre ela. “Eu sei ser professora da UFV (Universidade Federal de Viçosa) e não poderia ser de nenhum outro lugar”- o relato de Thais ecoou minha mente como se respondesse ‘sabe mesmo’. Nascida em Cataguases, graduou aqui e mesmo conhecendo o mundo foi em Viçosa, que encontrou casa e construiu seu lar com seu companheiro Wescley.

. ‘Eu sou a irmã mais velha de quatro filhos, todos no caminho da docencia” um ligeiro carinho pela profissão da família ressoa a voz, “Minha mãe é professora, ela concluiu a graduação no meu primeiro ano de faculdade … isso me fez ter muito orgulho dela!”, já o pai mesmo não tendo o diploma em mãos, mantem a veia docente da família, sendo assim doutor nos desafios da vida.

  Ensinar é uma forte marca de sua personalidade, foi assim que aprendeu a compreender o que o outro tem a oferecer. “A troca que é revelada e que não está no valor ou no que é ofertado” diz lembrando da rapadura que ganhou de um dos seus primeiros alunos. Aos 17 anos, foi professora de inglês, em uma cidadezinha perto da sua, o presente foi um dos agradecimentos que recebeu nessa época “ele me deu o que sabia fazer de melhor”.

   “O orgulho, as riquezas que eu levo da minha carreira  não são os prêmios, ou nada na dimensão do reconhecimento público, mas  é exatamente aqueles email que recebo no fim de uma disciplina ou ex-alunos que voltam visitar a UFV e me mandam mensagem querendo me encontrar…. é saber que estudantes se sentem encorajados pelas minhas aulas. Nossa, são tantas as conquistas e as eu guardo elas em um lugar muito bonito do meu coração”

   Tanto talento para lecionar quase nos faz esquecer sua outra profissão: ser mãe. “Quando eu era criança me perguntavam: o que você quer ser?  – MÃE,,A PROFISSÃO MÃE!” Afinal, toda a energia, tempo, dedicação e habilidades que demanda deveria ter registro trabalhista.

       Enquanto ensina a vida, coleciona histórias.  “Alice ama as princesas, é toda rosa e faz ballet, Sofia não quis fazer, então perguntamos o que ela queria e ela disse: não quero NADA” tentei muito me segurar, mas me senti representada, então RI! As pequenas de oito e três anos geram muito orgulho não necessariamente por aprenderem a ler  com cinco, quatro ou sete anos mas “pela interferência que a gente causa nessas vidinhas, nessa formação humana”

 “Sofia às vezes tá dentro do carro, ouvindo rádio – costume que adquirimos- e fala ‘OLHA MAMÃE FALOU DO DOCE DE LEITE VIÇOSA!’ mesmo sem eu ter que falar” 

“Alice é super engajada, na pandemia ela fez campanha de doação de livros  para um projeto social, ela gravava os áudios pedindo livros e mandava pros conhecidos, pra família…  ela  buscava,  levava e foi tudo iniciativa dela”

   Aprendem com a mãe, que também teve de quem aprender. ‘Não sei se eu te falei da ligação com meus avós..’ coração acabou de aquecer, avós são luz.  “A minha personalidade, a forma como eu enxergo a vida está muito ligada a eles”  o gosto por música, comida,  pessoas e alegrias foram formadas em boa parte por Dona Biá e Seu Ary.

   Quando começou a me contar sobre si, começou dizendo: “Pode me imaginar fazendo uma comida bem gostosa, é assim que eu gosto de receber as pessoas:  comida, casa cheia e música boa aprendi isso com meus avós”, agora faz mais sentido do que nunca. Mari ama cozinhar e ama casa cheia, aprendeu com eles assim, mas acima de tudo os avós a ensinaram a forma de lidar com o outro. Aprendeu com eles  a tratar sobre diversidade, respeito e fazer a diferença “O poder de transformação que temos à medida que encontros acontecem e como não podemos perder a oportunidade de fazer a diferença”. 

   Quando comecei a fazer perguntas pensava que trocaria a imagem de chefe de departamento, doutora, mestra, jornalista  Mariana Procópio e te entenderia como Mari. Porém após ouvir tanto, carinhosa e instintivamente te chamo de ‘prô’ como quem se refere a alguém que ensina da vida. “Gosto de ouvir histórias, de saber e entender como o mundo passa na vida do outro” Sou grata por essa e espero pela próxima chance de ouvir suas histórias, até breve.