Olhos que sorriem

Olhos atentos e receptivos se mexem para um lado e para outro mapeando a Avenida Ph Rolfs. Um rosto familiar tanto para os estudantes quanto para qualquer pessoa que não passa despercebida por ele, seja por um “Oi, seu Juca!!!”, quanto por uma buzina contínua dos parceiros de longos anos de trabalho. José Dias, de codinome Juca, para a universidade, é a simpatia em pessoa. Digo isso com propriedade porque nos nossos minutos de conversa é impossível contar quantos cumprimentos foram dados acompanhados de abraços e palavras de afeto a dezenas de rostos desconhecidos por mim, mas não por ele. Tenho a sensação de que sabe o nome de cada um deles e logo em seguida os menciona com carinho.

Encostado em seu Monza azul oxford, nossa conversa se inicia. Ao pedir para me acomodar, sem pestanejar ele profere: “isso aqui é nosso”. Assim como seu coração, seu carro que o acompanha desde os 0 KM sempre cabe mais um!  Esse não é seu único amigo de quatro rodas. Há mais um, deveras maior, em que ele faz boas e sinceras amizades nos últimos anos. Carinhosamente apelidado de “Capivarão do Jucão”, antes conhecido como “Juca Busion”, o ônibus universitário é seu parceiro e mais do que isso, é o local que os alunos recebem todos os dias acalorados “bom dia!”, “bom almoço!”, “bom final de semana!” e toques nas mãos. 

Juca sempre foi motorista. Meu conterrâneo de Ponte Nova veio ainda criança para Viçosa, mas viveu longos anos no Espírito Santo. Seu retorno se deu pelos sonhos de seus filhos de estudarem na Universidade Federal de Viçosa  (UFV).  Com o olhar satisfeito de dever cumprido, declara: “eles formaram aqui, um engenheiro civil e uma agrônoma”  – além de sua outra filha, que cursou medicina em Vitória/ES-. Antes de trabalhar na mais bonita universidade do Brasil, prestava serviços para outra empresa, até surgir a oportunidade de ingressar, como terceirizado, na Universidade Federal de Viçosa (UFV) e “está muito bom, graças a Deus”, com um “suspiro de  gratidão”. Ele é pau pra toda obra, onde tem serviço para fazer, ali ele está, faça chuva ou faça sol. Mesmo de férias, Juca está uniformizado e com seu crachá: José Dias, Diretoria de Logística, setor que ele menciona com carinho ao segurar a identificação. 

  • “Ei Duda, vem cá!” – as mãos que convidam para um abraço – “Eu tô fazendo uma entrevista”.
  • “Que chique, tá famoso agora!”.

Arrematada pela acalorada demonstração de carinho recíproco, vejo Juca sorrindo enquanto penteia com as mãos os cabelos brancos como algodão:

  •  “Eu gosto muito dos alunos, como se diz, eles são como uns filhos pra mim. Adoro eles!”.
  • “Dá pra ver que ele gosta muito do trabalho”. Encerra Duda e se despede

“É tão bom estar aqui com vocês, né? Eu gosto muito de estar com os alunos e com meu setor de trabalho, que é a garagem central”. É impossível descrever Juca e não associá-lo a todas as pessoas que o cercam, porque não existe Juca sem UFV, assim como não existe UFV sem o Juca.

O segredo para tantas amizades é o respeito com todos. Juca é a totalidade personificada, já que ao invés de proferir “sobre mim” todas as vezes ele menciona “sobre nós”. Ele é aquele que fala mais dos outros do que de si. Afirmo isso devido a longa lista de nomes que ele pediu para mencionar – a todos colegas de trabalho, um agradecimento especial do motorista favorito da Universidade. Nem mesmo eu fiquei fora de seus elogios, pois ouvi da voz da experiência que sou uma pessoa maravilhosa. Como não se sentir extasiada com um elogio assim?
Despeço-me com o coração quente e com a sensação de pertencimento. Juca melhor do que ninguém é capaz de nos fazer sentir parte de um todo. Um abraço que revigora e um sorriso marcante. Vejo seu Monza de mais de 27 anos, conservadinho, enquanto do outro lado da rua está estacionado o “Capivarão”. Dois lados de uma mesma moeda.

Agradecimentos especiais de Juca: 

Todos os funcionários da UFV, em especial a reitoria, DLO e garagem central.