Parece que levou uma eternidade até que aquele dia 10 de setembro chegasse. O dia de tomar a primeira dose da vacina contra a Covid-19. Demorou… E como demorou até que as doses permitidas para minha idade chegassem à minha cidade.

Pego as chaves em cima da mesa e me olho no espelho. “É hoje” A ansiedade está explodindo dentro do peito.

É quase um evento. Minhas aulas foram suspensas para que pudéssemos enfrentar as filas e, finalmente, nos proteger contra o vírus tão avassalador que tem nos mantido assustados e receosos pelo último ano. Agora enxergávamos uma luz no fim do túnel, a pior parte já havia passado e estávamos nos encaminhando para dias melhores.

Era de manhã e eu estava esperando minha mãe sair do trabalho para que fossemos até o posto mais próximo. Minhas amigas foram mais cedo, eu mal podia esperar para que fosse minha vez.

Meu celular apita e sei que já está na hora, um sorriso involuntário se abre enquanto desço as escadas, coloco a máscara de saúde e saio pela porta de casa. Os fones de ouvido agora tocam uma música alegre, combinando com o meu humor para aquele dia.

Nas ruas, as pessoas ainda usam máscara (ou pelo menos a maioria delas) e carregam os vidrinhos de álcool gel pendurados na bolsa. A essa altura, o movimento já voltou, diferente da época sombria, quando não se viam pessoas andando por essas calçadas sempre tão lotadas, o som de conversas, o alto falante das lojas gritando promoções… É um recomeço, com um pouco mais de cuidado agora.

Encontro a mamãe na metade do caminho, que pergunta se peguei todos os documentos, também ansiosa para que eu esteja pelo menos um pouco mais segura. Ela, meu pai e meus avós já foram vacinados, para o meu alívio.

Conversamos durante todo o caminho e a cada pessoa que passa me pergunto se eles optaram por se proteger. Tem se discutido nos últimos meses sobre isso, muitos alegando absurdos acerca de um assunto que nem mesmo compreendem o básico para argumentar. 

Meu coração acelera quando vejo os portões, agradeço silenciosamente por não ter fila naquele horário (escolhido exatamente para que não precisássemos esperar tanto). Entramos e vou até a mesa onde uma mulher baixinha está sentada com olheiras profundas e um pouco rabugenta.rabugenta.

Entrego todos os documentos e ela me dá uma nova carteirinha apenas para anotar as doses referentes a vacina da Covid. Estou emocionada, será que as coisas realmente vão melhorar de agora em diante?

O enfermeiro de cabelos compridos e jaleco branco me espera com a seringa pronta e sorri para mim por trás da máscara: Vai querer filmar?

Indico minha mãe, que já estava com o celular apontado em nossa direção.

Após o algodão gelado, a agulha entra em meu braço. Meu contentamento e alívio bloqueiam a dor. É tanta esperança!

Volto para casa agradecendo muito a Deus, ao universo ou ao que quer que esteja cuidando de nosso destino por esse dia ter chegado. Ainda não é o fim, muito cuidado ainda deve ser tomado, mas esse já um passo enorme em direção ao nosso “novo normal”.