Estudo de caso: Jornal da Cidade Online

As atividades do Jornal da Cidade Online tiveram início em 1978, na cidade de Campo Grande (MS). Inicialmente, funcionava com publicações do semanário Jornal da Cidade que circulou durante mais de duas décadas. Após isso, houve um período de paralisação e o retorno do jornal foi só em 2007, dessa vez, atualizado para a versão eletrônica. Hoje em dia, a sede do site está localizada no Rio Grande do Sul e o conteúdo tem alcance nacional.

Iremos analisar algumas características da atuação do Jornal da Cidade Online, tendo como base, o livro “Webjornalismo: 7 características que marcam a diferença”, organizado por João Canavilhas. Então, serão tratados nessa análise os conceitos de: hipertextualidade, multimidialidade, interatividade, memória, instantaneidade, personalização e ubiquidade.

Hipertextualidade

O jornal não faz uso de links externos no formato hiperlink para complementar ou acrescentar documentos, definições e informações, pelo menos não no que possa ser identificado na área do site que não é exclusiva aos assinantes. 

Apesar disso, algumas notícias contam com o “Leia também” que redireciona para outra matéria, que não necessariamente tem alguma ligação com a original, tratando-se de alguma notícia do dia. Mesmo aquelas que possuem o mesmo assunto ou debatem o mesmo fato não são linkadas juntas, a exemplo de toda a “cobertura” do caso de agressão de Joice Hasselmann.

Porém, há um bloco de manchetes aleatórias do lado do texto. 

Multimidialidade

Podemos relacionar alguns conceitos de multimidialidade com o site Jornal da Cidade Online. O primeiro seria a multimidialidade como plataforma. Esse conceito caracteriza a junção de canais distintos dentro de uma mesma empresa jornalística para aumentar os seus resultados.

Sendo assim, observamos que ele faz uso das redes sociais disponíveis on-line para produzir seus conteúdos. Um exemplo disso é o uso que o jornal faz do seu canal no YouTube, que aborda o tema políticos quase que diariamente em lives.

O segundo termo seria a multimidialidade como polivalência. Ele diz respeito ao emprego de um jornalista que irá desempenhar várias funções dentro de uma empresa.

Ao observar o Jornal da Cidade Online, é notável que eles possuem um amplo quadro de colunistas e colaboradores, o que possibilita que cada um segmente o seu conteúdo em editorias diferentes, cuidando assim de apenas uma função.

Para além da multimidialidade no trabalho, temos ela presente também nas próprias matérias. Isso acontece ao combinar dois ou mais elementos sensoriais (visão, audição, tato, olfato e paladar) em um ambiente virtual, o jornalismo se torna multimídia.

Mas na web, existem alguns elementos que são mais utilizados. São eles: o texto, a foto, os gráficos, as iconografias e as ilustrações estáticas, o vídeo, a animação digital, o discurso oral, a música e os efeitos sonoros e a vibração.

Relacionando com o jornal, é perceptível que eles utilizam frequentemente esses elementos em conjunto. Sempre uma matéria apresenta uma foto para ilustrar ou coloca um vídeo para embasar o que foi dito. Porém, essa inserção dos elementos acontece mais por justaposição, não há uma hierarquia de importância dos elementos dentro da matéria, o que acaba fazendo com que um vídeo, que, por exemplo, seria o tema central da matéria, acabasse aparecendo no final desta.

Além disso, o site utiliza muito bem o elemento da iconografia, que serve para guiar o usuário dentro da página, fornecendo caminhos interativos para ele. Há presentes ícones de busca, de compartilhamento, de fazer um comentário ou até mesmo receber a newsletter do jornal.

Interatividade

O Cidade Online tem duas áreas reservadas apenas para a apresentação das redes sociais, onde existe maior abertura para interação, com links direto para cada uma das mídias em que está presente. 

O jornal não tem caixa de comentários livre, não é possível ler a não ser que clique e que se esteja logado. Os artigos de opinião (que são numerosos) por vezes apresentam o link para as redes sociais dos próprios colunistas, onde o debate também acontece, uma vez que em muitas situações, os colunistas repostam seus próprios textos em seus perfis, gerando discussões maiores.

Cabe ressaltar que o Cidade Online já foi palco de ações judiciais porque usava fotos modificadas de outras pessoas para servirem de fachada para perfis falsos de colunistas, como foi o caso da escritora Thalita Rebouças, que teve sua imagem alterada para servir a um dos bots.

Memória

O jornalismo tem papel fundamental na memória e na história, pois fornece subsídios para a reconstrução dos fatos e análise destes. Antigamente, esse ofício agia só para informar por meio de pequenas notas. Mas com o crescimento das cidades, ele passou a encontrar diversos tipos de fontes de conteúdo.

O fazer jornalístico pode acionar a memória, por exemplo, ao tratar de datas comemorativas ou fim de trajetórias (aniversários, obituários). Ou ao fazer retrospectivas anuais de fatos marcantes.

Atualmente, temos notícias produzidas praticamente em tempo real. E a internet possibilita que diferentes formas de ler o mundo, que podem ser passageiras, tenham o seu espaço.

Além disso, a internet torna mais fácil produzir, disponibilizar e pesquisar esses arquivos jornalísticos, pois eles são armazenados em diversas bases de dados. Fato que o Jornal da Cidade Online consegue implementar bem em seu veículo, pois existe no site a possibilidade de fazer uma pesquisa (barra de pesquisa) e encontrar um conteúdo que seja segmentado por editoria ou editores (barra de editorias e blogs e colunas).

A web também possibilita a interação do público com a notícia em tempo real, através da sessão de comentários. O que antes, com o jornal impresso, era feito através de carta dos leitores. Esses comentários podem: ajudar a fidelizar o leitor, que sente que está participando; atualizar e aumentar a semântica da notícia, pois os leitores podem apontar erros, sugerir possíveis desdobramentos, etc.

Mas há o perigo de não haver moderação nesses comentários e surgirem postagens incorretas, de cunho ofensivo e que não acrescentam nada à notícia. Ao analisar o Jornal da Cidade Online, percebemos que essa é a realidade deles. Existe a sessão de comentários, mas essa sempre está cheia de pessoas sendo grosseiras, proferindo palavrões e intolerância.

Instantaneidade (Atualização contínua)

Sobre a instantaneidade do Jornal da Cidade Online, há sempre atualizações no site – muitas matérias são publicadas todos os dias. O jornal usa bastante as redes sociais e as atualiza sempre também. Entretanto, há falta de produção de conteúdo destinado e pensado propriamente para as redes sociais. O Twitter, Instagram e Facebook do Jornal da Cidade Online servem apenas para chamar os leitores para o site principal. 

Paul Bradshaw fala sobre como é interessante observar a tentativa dos jornais de conciliar o tempo com a necessidade de fazer dinheiro. Dessa forma, um fato importante a ser levantado, é que, segundo o Aos Fatos, site que trabalha principalmente com checagem de fatos e investigação jornalística, há comprovação de que o Jornal da Cidade Online compartilhou canais de publicidade com o site da viúva do Coronel Brilhante Ustra, Joseíta Brilhante Ustra, o Verdade Sufocada. Segundo a matéria do Aos Fatos, a política de anúncios do Google diz que há possibilidade de dois ou mais sites compartilharem o mesmo canal de publicidade. A vantagem disso é otimizar a monetização, concentrando todo o lucro dos anúncios numa única conta. Além disso, por ser aberto para qualquer tipo de conteúdo, esse recurso é utilizado também para gerar cliques em redes de desinformação.

Bradshaw também diz que segundo um estudo canadense, as pessoas estavam até duas vezes mais propensas a obter notícias por meio de amigos ou familiares. Dito isso, ainda segundo a matéria da Aos Fatos, durante um monitoramento feito durante as eleições de 2018, um estudo da Universidade Northwestern revelou que o Jornal da Cidade Online foi o mais popular nos grupos de Whatsapp com viés de direita.

Personalização/Customização

O conceito se refere à ideia de reunir, classificar e filtrar o conteúdo disponível, incluindo assim, as notícias mais relevantes para cada usuário. A personalização do conteúdo jornalístico pode ser dividida pela análise dos 6 graus, sendo eles: resposta, alterar com base na hora do dia, interação significativa, ajuda na decisão, calibração e algoritmos e adaptável para mudar.

Portanto, no Jornal da Cidade Online, identificamos essas características apenas no primeiro grau, resposta. A plataforma tem uma boa responsividade para computador e celular, além de contar com o aplicativo do próprio jornal para os dispositivos móveis.

A página inicial do site não é alterada de acordo com o horário do dia, não existem meios de interação significativa e nenhum dos outros pontos, sendo assim, não é possível identificar outras características nos outros graus da análise.

Ubiquidade

A ubiquidade segundo os preceitos de John Pavlik pode ser vista em situações específicas no Jornal da Cidade Online. 

Está presente na interação com produtores de conteúdo e “cidadãos comuns” em transmissões ao vivo realizadas no canal do YouTube, permitindo que não-jornalistas participem das notícias de forma instantânea.

A informação do Jornal da Cidade Online também tem grande disseminação por meio das redes sociais Facebook, Twitter, Instagram e YouTube, e por mensageiros como Telegram e WhatsApp – e está disponível facilmente em dispositivos móveis.

No entanto, o Jornal da Cidade Online não direciona seus conteúdos de forma geolocalizada e não utiliza dados para a produção das informações veiculadas.

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Grupo composto por: Ana Kei Osera, Enya Chaves, Jean Cravo, Julia Lourenço e Matheus Garcia.

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