Um dos segmentos da economia que mais gera entulho e resíduos é a construção civil. Além dos danos diretos, ela causa também danos ao meio ambiente em função dos métodos de extração de matérias-primas. Em contrapartida a isso, a engenharia sustentável é a ciência que pretende aplicar os princípios do design e da engenharia de modo a promover o desenvolvimento social e econômico de maneira positiva, minimizando o impacto ambiental. Isso é conquistado através de esforços para redesenhar e reaproveitar sistemas existentes, com base na análise das atuais operações, produção, qualidade e nas deficiências funcionais que podem prejudicar esses processos. 

O uso de materiais reciclados colabora com uma maior economia na obra e ajudam na sustentabilidade do projeto. Como exemplo, já existem tijolos e telhas reciclados, contendo outros materiais em sua composição, como resíduos de embalagens Tetra Pak, garrafas PET e  pneus, que além do menor custo possuem uma maior resistência.

O Engenharia Pública é um projeto de extensão da Universidade Federal de Viçosa (UFV) que tem caráter social e como principal objetivo oferecer gratuitamente às comunidades carentes serviços relacionados a construção civil. Sendo assim, o projeto atende a comunidade viçosense e cidades vizinhas com a elaboração de projetos, orçamentos, levantamentos e verificações de estruturas construídas nas cidades.

É comum, no Brasil, as construções serem realizadas sem os respaldos técnicos necessários para assegurar a segurança e a qualidade da obra, isso devido a falta de recursos financeiros para contratar profissionais capacitados e a falta de conhecimento da importância desse serviço, o que gera problemas tanto para a comunidade que está inserida quanto para todo o município. 

Pensando nisso, o projeto Engenharia Pública surgiu em função da demanda da população carente de Viçosa por soluções economicamente viáveis e tecnicamente adequadas para a problemática das obras no espaço urbano. Nesse sentido, o Engenharia Pública visa o protagonismo e o desenvolvimento social por meio de serviços prestados relacionados às áreas de atuação dos cursos de Engenharia Civil e Arquitetura por meio de consultorias e informações fornecidas às pessoas para buscar soluções economicamente viáveis e tecnicamente adequadas para a problemática no espaço urbano.

Os principais objetivos são promover o diálogo entre estudantes e a comunidade para analisar possibilidades de redução de custos de obras e as tecnologias que demandam baixo recurso; promover a ajuda mútua para execução de obras, aproveitando os recursos humanos disponíveis. Essas ações ainda possibilitam aos estudantes dos cursos aplicarem, de forma prática, os conhecimentos obtidos ao longo do curso, desenvolvendo o aprofundamento conceitual, além de explorar novas áreas que nem sempre podem ser desenvolvidas durante a graduação.

Os projetos são elaborados com a demanda e a necessidade da população, e eles podem ser: estruturais, arquitetônicos, hidráulicos e de saneamento, de capacitação, de prevenção e combate a incêndios, além de serviços de orçamentação, consultoria e acompanhamento das obras. Em Viçosa, a Lei Municipal nº 1637/2005 institui o serviço de engenharia e arquitetura pública e dá outras providências, sendo responsável por garantir os serviços de  engenharia e arquitetura para a parcela da população que não tem acesso a esses benefícios por questões financeiras ou falta de conhecimento e, através de consultorias, informação e discussões, junto ao órgão competente busca soluções para a problemática da habitação e da ocupação do espaço urbano.

Nesse sentido, o projeto busca atingir um modelo de engenharia pública funcional e efetivo para a realidade da cidade de Viçosa, com a contribuição e o envolvimento de estudantes, poder público e profissionais para oferecer soluções técnicas e a viabilidade econômica. O Engenharia Pública pretende ainda sensibilizar a sociedade de que pode ser uma solução de economia, conforto e segurança ao usuário.

Marina Silva Reis estuda Arquitetura e Urbanismo na UFV e participa do projeto há um ano e meio. De acordo com ela, a experiência de fazer parte do Engenharia Pública é enriquecedora “as atividades que eu desenvolvi e mais gostei de participar foram as capacitações, principalmente de mão de obra, onde eu tive mais contato com as pessoas de outras realidades e pude transmitir um pouco de conhecimento que eu obtive aqui dentro da universidade. Além disso, também participei diretamente de projetos arquitetônicos e como também tenho experiência com marketing, desenvolvi minhas habilidades nessa área e foi aí que percebi que eu quero atuar nessa área depois de formar” disse.

Sobre as experiências profissionais desenvolvidas no projeto, Marina sente-se muito grata “as experiências que eu vivo no projeto são muito gratificantes, porque consigo desenvolver os conhecimentos que adquiri no curso de arquitetura e, ao mesmo tempo, consigo ajudar as pessoas que não tem essas mesmas oportunidades” disse.

O conjunto das práticas estimula, além da realização de atividades em comunidades carentes, a vivência prática dos estudantes e o networking dentro das áreas de Engenharia Civil e Arquitetura. Sobre as motivações em ser parte, Marina cita o contato de ex membros que elogiavam o trabalho e o cunho social “eu queria fazer parte de alguma coisa mais ligada ao meu curso e que realizasse trabalho voluntário. Outra vantagem é ter a oportunidade de ter contato com profissionais da engenharia” observou.

O público-alvo são famílias carentes, associações comunitárias, creches e idosos, e o suporte também é oferecido a iniciativas de ONGs e associações do Município, como a Casa das Mulheres com a troca de experiências. Além disso, também foram elaborados estudos de custos médios de padrão popular sw edificações em Viçosa, além de minicursos e workshops para a comunidade, e constante busca de soluções para a problemática de habitação em Viçosa em conjunto com a prefeitura.

Nesse contexto, são estudados problemáticas que vão desde as manifestações patológicas relacionadas à má execução da obra e aos riscos de projetos elaborados e executados sem respaldo técnico. Foram criados, por exemplo, projetos de combate a incêndio da Instituição Rebusca que previne a vulnerabilidade social de crianças e adolescentes, para prevenir tragédias. A creche São Sebastião recebeu projetos estruturais para promover educação de qualidade e ainda possibilitar emprego às mães das crianças atendidas. Assim, além de construir obras, é objetivo do projeto construir possibilidades na vida de pessoas para promover valores como educação, justiça, dignidade e conhecimento.

Conforme orientação no mapa, algumas das ações que foram realizadas em Viçosa são: 

• visitas ao bairro Nova Viçosa para informar à população o local sobre o oferecimento de assistência e auxílio na elaboração de projetos para construção e reforma; 
• Projeto arquitetônico e estrutural de uma residência unifamiliar de dois pavimentos no Bairro Bom Jesus; 
• Projeto de recuperação de uma travessa junto ao planejamento de um escadão no bairro Centro, em parceria com a Edifica Consultoria, Empresa Júnior de Engenharia Civil em andamento. 
• Projeto estrutural e hidrossanitário do Centro Educacional e Ação Social São Sebastião, que visa a atender cerca de 200 (duzentas) crianças, do berçário à pré-escola, no bairro Inácio Martins; 
• Projeto de Prevenção e Combate a Incêndio e Pânico para a REBUSCA, Creche vinculada à Igreja Presbiteriana de Viçosa; 
• Desenvolvimento de um curso de capacitação, em parceria com o Engenheiros sem Fronteiras e com a Casa da Mulher, sobre Construção Civil, Segurança do Trabalho e Empreendedorismo; 
• Construção do Centro Educacional e Ação Social São Sebastião;
• Curso de capacitação em construção civil, segurança do trabalho e empreendedorismo em parceria com a Casa da Mulher. 

Portanto, o resultado previsto pelo projeto é fazer com que comunidades e organizações carentes de recursos financeiros tenham acesso a engenharia de qualidade e, assim, possam superar as necessidades referentes à moradia e instituições no município de Viçosa.

Agora que você sabe o quão importante é a engenharia sustentável, aprenda algumas dicas de como promover a sustentabilidade na sua construção:

• Prefira usar materiais sustentáveis:
• Telhado verde: é a aplicação de uma camada vegetal na laje da edificação. Ela é aplicada sobre uma base impermeabilizada de PVC, que promove um ambiente agradável, isolante térmico e acústico. Sem contar o aspecto estético e a possibilidade de criação de novas áreas de lazer.
• Tinta ecológica: a tinta ecológica é feita a base matérias-primas totalmente naturais, que são geralmente óleos ou corantes. É um material livre de componentes químicos, na formulação a água substitui o solvente. Mas atenção: para ser considerada ecológica a tinta têm de ser livre de compostos orgânicos voláteis (COVs), compostos sintéticos e de pigmentos à base de metais pesados.
• Vidro inteligente: é uma nova tecnologia que permite por meio de um botão controlar a transparência do vidro, a passagem de iluminação e a sua absorção de calor. 
• Bambu: é um material muito resistente e disponível em grande quantidade na natureza, sendo um substituto ao concreto armado.
• Bioconcreto: diferente do concreto reciclado que aproveita os resíduos da obra em sua composição, substituindo a areia e a brita. O bioconcreto tem em sua composição uma bactéria. Isso confere ao produto propriedades regeneradoras, as quais ajudam a evitar o aparecimento de rachaduras, pois na presença de água ou ar, a bactéria produz carbonato de cálcio, selando as rachaduras.
• Telhas ecológicas: fabricadas a partir de fibras vegetais ou papel reciclado. Em sua composição existem também resíduos de embalagens Tetra-Pak e garrafas Pet.
• Técnicas de construção sustentáveis:
• Containers: é um método considerado totalmente sustentável, já que gera poucos resíduos de construção e reutiliza um material que seria descartado.
• Reuso de recursos: o reuso de recursos proporciona maior economia à obra, além de reduzir os recursos. Um modo é utilizar o concreto reciclado, outro é adotar ações para a reutilização da água.
• Gestão de resíduos: nada mais é do que o cuidado com os entulhos que são gerados durante o processo de construção. Deve-se destinar espaços no canteiro de obras para a separação dos resíduos, de modo a reduzir o impacto e possibilitar que alguns materiais possam ser reaproveitados. O descarte de forma responsável é fundamental.
• Iluminação e ventilação natural: priorize a iluminação e ventilação natural. Para isso, é necessário analisar as áreas mais iluminadas pelo sol e com maior incidência de vento no local. Portas e janelas devem ser distribuídas de forma inteligente, permitindo a passagem de vento. Espaços envidraçados e uso de telhas transparentes favorecem a iluminação natural.
• Lâmpadas LED: a eficiência energética e a durabilidade das lâmpadas LED é muito menos do que as outras alternativas. Embora o custo imediato mais elevado, elas são melhores custo-benefício. Além disso, elas não esquentam o meio ambiente.
• Tecnologias sustentáveis:
• Sistema de aquecimento solar: em épocas de frio, o aquecimento solar é uma ótima opção para aquecer a água e economizar energia. O sistema utiliza o sol como fonte de calor. A insolação é captada por meio de painéis solares que contêm tubulações em seu interior, por onde a água circula. Depois de aquecida, ela é enviada para um reservatório térmico que é integrado a rede hidráulica do imóvel.