Estima-se que a agricultura surgiu há pelo menos 10 mil anos atrás, e com essa prática foi possível aumentar a oferta de alimentos, obtendo alimentos de não só através da caça. Com o passar do tempo as técnicas para aumentar a produção na agricultura foram aperfeiçoadas, visando obter mais alimentos, menos gastos de recursos tanto financeiro como materiais. 

Uma das formas se ter isso é através do melhoramento genético. O melhoramento genético é o processo de selecionar ou modificar algum ser vivo, vegetal ou animal, para ter resultados de indivíduos com as características desejadas pelo homem. O melhoramento genético convencional existe desde o começo da agricultura, quando selecionava as melhores plantas para cruzamento, quando se adaptava às plantas para conseguir plantar em lugares diferentes dos originais das plantas, este processo pode ser chamado também de domesticação das plantas.

Este processo teve grande influência na chamada Revolução Verde, ocorrida entre 1960 e 1970, que aumentou a produção de alimentos mundialmente. Mas até então, este processo era feito apenas com seleção das espécies ou com o  cruzamento de espécies, tornando este processo lento e sem muito controle. 

Linha do tempo do melhoramento genético das plantas.

A engenharia genética possibilitou ter mais controle no processo de melhoramento genético, além de tornar o mesmo mais rápido. Esta tecnologia possibilita isolar parte do DNA e incluir DNA de outras plantas, selecionando as características desejadas. Dessa forma não é necessário fazer o cruzamento e esperar a planta se desenvolver para saber se o resultado foi positivo ou negativo. 

O gráfico acima, exemplifica como o melhoramento genético ajudou na expansão da produção agrícola de milho nos EUA. A partir do momento em que houve um hibridismo de diferentes espécies de milho, as plantações explodiram sua produtividade.

Novas técnicas surgiram com o desenvolvimento da engenharia genética, sendo possível solucionar problemas com o intuito de aumentar a produção de alimentos, fazendo que seja possível plantar algo que não seja tão resistente ao sol em lugares tropicais, por exemplo. 

Dentro da Universidade Federal de Viçosa o melhoramento genético é um programa de pós-graduação vinculado ao Departamento de Biologia Vegetal, que existe desde 1976 em nível de mestrado e 1979 em nível de doutorado. Em uma visita a uma das estufas utilizadas pelo Departamento de Biologia Vegetal podemos ver alguns exemplos de melhoramento genético,e uma das pesquisas feitas atualmente é a de Augustin Zsögôn.

Um exemplo de melhoramento genético em uma das estufas do DBV

Uma das estufas da Universidade Federal de Viçosa em que as plantas de tomateiros derivadas das pesquisas do Departamento de Fisiologia Vegetal se desenvolvem.

O Argentino, de Buenos Aires, Augustin Zsögôn é professor desde 2015 do Departamento de Fisiologia Vegetal da Universidade Federal de Viçosa. tem desenvolvido um projeto de pesquisa que visa cruzar genes de tomateiros com pimenta. O trabalho conta com a colaboração de uma equipe da USP de Piracicaba e de uma outra dos Estados Unidos.

A ideia é obter, a partir do gene responsável pela ardência da pimenta, os capsaicinoides, a capacidade de resistência que a pimenta tem, e introduzi-lo nos tomateiros.

Esteticamente, as mudanças nos tomateiros seriam bem perceptíveis, uma vez que o fruto maduro atual, tem uma cor avermelhada, na alteração genética do mesmo, ele passaria a ter uma cor mais aproximada do roxo. O que também aconteceria com as folhas e o caule da planta, que segundo o professor, isto seria responsável por uma maior resistência da planta ao calor extremo de algumas regiões.

Professor Augustín Zsögön mostrando exemplos de tomateiros que passaram por melhoramento genético.

Segundo o professor, as possibilidades de se obter vantagens que auxiliam nos setores agrícolas e industriais são infinitas. A partir do momento que a pesquisa foi divulgada em janeiro de 2019, muitas ideias começaram a surgir de outros pesquisadores em que a equipe responsável não observou anteriormente. Uma destas ideias, por exemplo, surgiu de uma estudante de Doutorado, que enxergou a possibilidade de redução do consumo de água e recursos nas plantações agrícolas, uma vez que a produção de pimenta chega a ser de 4 a 5 tonelas por hectares, enquanto a de tomates chega a cerca de 110 toneladas. Outra ideia, seria de que a partir da obtenção dos capsaicinoides do fruto da pimenta, que possui substâncias anti-microbianas e anti-bacterianas, as mesmas poderiam ser aplicadas no restante da planta, o que geraria uma menor aplicação de defensivos agrícolas.

Estas substâncias também poderiam contribuir com a indústria farmacêutica, visto que a pimenta tem potencial analgésico e anti-inflamatório. Além disto, o potencial nutricional seria enorme, uma vez que a mesma é termogênica (o que acelera o metabolismo), e é rica em vitaminas C e E, além de contar com fontes de pró-vitamina A; e todas as variedades de pimentas ainda contém entre 22 kcal e 100kcal em 100 gramas de pimentas maduras.

Segundo o professor, o projeto já está bastante avançado na parte teórica, e o mais difícil no momento, seria a biologia que está por trás de tudo, quando precisa-se saber quais genes deveriam ser ativados, quais teriam que ser editados, qual a sequência que se queira obter e em que momento do desenvolvimento da planta esse gente teria que se expressar; o conhecimento destas partes vem antes de começar os desenvolvimentos dos trabalhos, e requer muito tempo de estudo.

No momento, não existe nenhum pesquisador trabalhando no projeto do tomate picante, uma vez que o estudante da equipe de pesquisa foi para a Suíça para realizar a sua pesquisa de Doutorado. Porém, Augustín fala que não encontra muitas dificuldades para se realizar o projeto; sendo que o Departamento de Fisiologia Vegetal tem tradição e é bem conceituado no país, obtendo conceito A até 1997 segundo a Capes; nos triênios de 1998/2000 e 2001/2003 obteve o Conceito 7, atualmente o programa tem conceito 6 relativo a Capes. Além disso, a Universidade Federal de Viçosa, possibilita a infraestrutura adequada para a realização do projeto. Mesmo com os recentes cortes dos recursos financeiros das universidades públicas do país. Como exemplo, cada estufa onde se desenvolvem as plantas das pesquisas, custam cercam de cem mil reais, além disto, a falta de recursos chegam a afetar a necessidade de manter os gastos correntes, como a compra de material de consumo, funcionamento da casa de vegetação, compras de substratos, etc; o bom relacionamento com as outras equipes das Universidades envolvidas no projeto, possibilitam o andamento dos trabalhos. 

Estas são fotos tiradas na estufa do DBV.

Escrito por Pedro Lima e Yuri Said.