Música, cultura e arte, esses são os três principais pilares do projeto de extensão MusiCArt, criado em 2011 através do Departamento de Educação Infantil na UFV após alunos do curso, perceberem a ausência de projetos musicais em escolas e comunidades da cidade, surgindo a necessidade de se desenvolver um trabalho que envolvesse música e som com as famílias viçosenses. Tendo como ideal utilizar a música, o som, o movimento e a ludicidade para o aprendizado de crianças e famílias, o projeto oferece uma experiência única, rica e viva no que se refere a cultura e ensino.

Levando brincadeiras musicais para a comunidade de Viçosa, o projeto proporciona um enriquecimento único e agradável para quem participa do mesmo, com oficinas gratuitas ministradas por estudantes voluntários, tornando a experiência de se aprender através da música, prazerosa e legal.

Uma das prioridades deste projeto é, aproximar e viabilizar a integração entre o viçosense e a Universidade, contribuindo ativamente para o desenvolvimento social. O MusiCArt atende a escolas, alas infantis de hospitais, laboratórios de desenvolvimento infantil da UFV e institutos de atendimento à crianças e idosos, com um público estimado em mais de 600 pessoas, estimulando a musicalização e o convívio.

Conversamos com a coordenadora do projeto, professora Márcia Onísia da Silva, que contou com exclusividade para o FOCCA detalhes do projeto.

FOCCA: Quando e como surgiu o projeto?

Márcia: O MusiCArt surgiu da observação de que havia necessidade de incluir a música e as brincadeiras cantadas nas atividades com crianças e suas famílias nos Laboratórios de Desenvolvimento Infantil e Humano da UFV, nos estágios curriculares e extracurriculares da Educação Infantil e nos cursos de formação que temos gerenciado ao longo de 17 anos de atuação na UFV.

Fizemos um projeto piloto, em 2011 para verificar as linhas de ação, levantar os potenciais estudantes e profissionais na área e analisar a aceitação do projeto pela comunidade. Foi uma experiência única e muito rica, por meio da qual, constatamos a necessidade de implantar, de forma mais sistematizada o projeto e, assim, submeti ao edital do FUNARBEX, em 2012, no qual foi aprovado em primeiro lugar e mantendo sua classificação por cinco anos.

Em 2017, já tendo cumprido o prazo máximo de permanência no programa, transferimos para o PROCULTURA, onde também foi aprovado e em 2018, obtivemos a primeira colocação no edital. Também houve mudança no nome, hoje é MusiCArt: entre trilhas de música e de arte, devido à uma nova proposta que veio a partir das experiências acumuladas. Até o nome justifica sua existência: as letras “C” e “A”, em maiúsculo na palavra MusiCArt se devem à integração de cultura e arte de forma indissociável.

Como a música/som/movimento pode servir de elemento aproximador entre UFV e população viçosense (entre o projeto e as famílias e crianças)?

Compreendemos a música como um meio potencial de desenvolvimento e aprendizagem humana. Ela aproxima as pessoas, acalma, acalenta, socializa, auxilia no equilíbrio das emoções, é meio de expressão e de liberação de sentimentos. É um dos meios mais eficientes de se criar vínculos e é mecanismo de interação, especialmente entre comunidade universitária e viçosense. É sempre muito bem aceita entre crianças e suas famílias e promove um verdadeiro encontro de gerações, de gostos, de saberes, de vivências.

Ao realizar atividades com música, corpo e movimento envolvendo os diferentes atores, criamos um vínculo, que vai da distância natural inicial ao círculo de confiança que se estabelece com as pessoas. Só para exemplificar, em quase todos os eventos oficiais que temos visto, há uma apresentação cultural, constituída de uma apresentação artística nas áreas da música, da dança e outras performances. O público reage de forma positiva aos eventos, a partir das vivências culturais iniciais promovidas.

Claro que a escolha das canções não é aleatória, temos estudos sobre a letra, ritmos, sons, movimentos, o corpo, preferências, primando sempre pela qualidade musical. Cada público requer possui uma experiência e precisamos nos adequar a ela. Um exemplo, foi uma atividade realizada no lar dos velhinhos, os bolsistas e voluntários se emocionaram muito, pois lá vivenciaram uma experiência única.

Esperavam que os idosos solicitassem músicas de seu tempo (e ensaiaram para isso), mas a surpresa foi que pediram para cantar também as canções infantis e fizessem as brincadeiras de roda. Ficaram maravilhados, pois foi algo muito diferente do que vivem na academia. É um verdadeiro encontro com o outro!

De que forma é feita a seleção de canções e brincadeiras para o projeto? Quais são as mais populares?

Temos um grupo de estudos que realiza, periodicamente, estudos teóricos sobre o tema. Ao mesmo tempo, a equipe estuda as características do público que vai atender e organiza um repertório de atividades que vai propor aos participantes, sempre considerando também as demandas do grupo. As atividades são sempre interativas. O que mais valorizamos no projeto é essa troca: nunca sabemos tudo, de cada experiência, trazemos algo a mais que acrescentamos ao projeto.

Montamos uma pasta de canções e uma de brincadeiras cantadas que são desenvolvidas nos atendimentos. Este ano, estamos fazendo um treinamento com a arte-educadora Sarah Menezes,  que vai comandar um circuito de atividades formativas para a equipe e em cursos de formação externos. Nosso novo empreendimento é a criação da trilha musical, que se constituirá de jogos que têm, na música a sua base. São jogos inéditos que estamos criando e outros que vamos adaptar.

Como o local (escola) que receberá o projeto é escolhido?

Temos demandas fixas, como LDI e LDH, Escola Almiro Paraíso, Ciaca, Feira Quintal Solidário, Feira agroecológica da Violeira, Brinquedoteca Hospitalar do São Sebastião e uma escola municipal em São Miguel do Anta, contação de histórias na praça Silviano Brandão, Semana Mundial do brincar. As demandas itinerantes (aquelas que surgem ao longo do ano) são encaixadas na agenda, de acordo com a capacidade de atendimento. O bolsista é quem recebe as demandas e organiza a agenda.

De que forma o MusiCArt impacta socialmente?

Além de atender essas demandas, o projeto auxilia na implantação das atividades de música, corpo e movimento nos espaços formais e não formais de ensino, levando cultura para esses espaços. Não pretendemos formar músicos, mas despertar e levar a música e atividades afins para esses públicos, introduzindo-os na cultura de atividades que, socialmente, são relevantes para o desenvolvimento humano. Pretendemos mostrar aos professores e atendentes desses espaços que a música não pode ser um mero passatempo, ela é meio e forma de expressão humana, das mais genuínas, ligada aos sentimentos positivos e pode incluir as pessoas em uma rede social mais ampla. Música é cultura e entendemos que cultura é direito humano.

Créditos: Departamento de Educação Infantil / UFV.

Como os participantes do projeto são escolhidos? Eles passam por algum treinamento? Além de estudantes, também é fundamental ter um contato prévio com a música e instrumentos musicais?

Essa é uma parte muito interessante do projeto. As pessoas acreditam que é necessário ser músico, ou cantar ou dançar, mas não é. O projeto abraça qualquer pessoa que tenha interesse em se dedicar à atividades de música, corpo e movimento e que tenham interesse em desenvolver algumas habilidades para isso.

Dessa forma, os interessados se apresentam, são cadastrados e passam por um treinamento (grupos de estudo, reuniões, oficinas de construção de instrumentos e atividades corporais, vivências, entre outros). Solicitamos aos voluntários que tenham 4 horas semanais disponíveis para as atividades. As habilidades são construídas ao longo do envolvimento no projeto. No entanto, caso a pessoa já possua algum envolvimento com a área também é bem vinda ao projeto.

Como a população recebeu o MusicArt?

Nossa avaliação sobre a recepção das atividades é muito positiva. Na verdade, nosso grande problema hoje é conseguir atender as demandas, que vem crescendo ao longo do tempo. O curso de Educação Infantil possui muitos projetos de extensão e de ensino que absorvem grande parte de nossos discentes.

Com isso, as equipes dos projetos acabam se dissolvendo umas nas outras, muitos são voluntários de mais de um projeto. Temos atendido, na medida do possível, as demandas apresentadas. Mas com relação à avaliação da comunidade, essa é sempre positiva. As dificuldades se relacionam muito mais à logística, por exemplo, como chegar a lugares mais afastados com todo o material que possuímos.