O  projeto Cuidando do Ursinho é uma iniciativa dos departamentos de Medicina e Enfermagem da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e foi iniciado em 2015. De lá pra cá, o projeto cresceu e hoje abrange mais cursos, como Educação Infantil, Pedagogia, Comunicação Social – Jornalismo e outros, unindo principalmente as áreas de Humanas e Saúde.

Áreas consideradas distintas para muitos, se mostram totalmente complementares na prática do projeto, cujo principal objetivo é brincar, aprender e (des) construir na educação em saúde e em diversas outras temáticas. No início, o projeto tinha um enfoque maior em saúde e com o passar dos anos isso mudou, abordando também questões fundamentais como o respeito ao próximo e suas diferenças.

O Cuidando do Ursinho é um projeto que busca realizar atividades educativas, baseadas na Educação Popular, para crianças, em escolas e locais públicos, Atualmente ele atua nos bairros de Nova Viçosa e Santa Clara, na cidade de Viçosa.

Até meados de 2017, os cuidadores, como são chamados os participantes do projeto, eram reconhecidos pelos eventos na Praça Silviano Brandão. As manhãs de sábado ganhavam, além da tradicional feira, uma tenda do projeto e as mais diversas crianças que por ali passavam se encantavam ao ver os ursinhos e logo se aproximavam para participar e brincar.

As atividades na praça deram muita visibilidade ao projeto, que ao crescer começou a atuar em mais locais. Em todos os locais em que atua, o Cuidando do Ursinho realiza sua atividade clássica, em que as crianças participam de um circuito com ursos de pelúcia.

É daí que surge o nome do projeto, em função desse circuito e em referência ao Hospital do Ursinho, projeto de Coimbra (Portugal) que serviu de inspiração para o Cuidando do Ursinho, por abordar de forma lúdica e natural a desmistificação do “terror” muitas vezes despertado pelos hospitais às crianças. Acabando assim com o medo dos jalecos, estetoscópios e seringas, permitindo à criança uma maior confiança nos médicos em geral e consequentemente uma melhor colaboração com os mesmos nas suas próprias consultas pediátricas.

Mostrando também que não há necessidade de medo ou pânico ao consultar, e despertando a consciência de que por exemplo, uma injeção vai doer. Ao invés de “enganar” a criança e sim dialogar e explicar que ela sentirá dor mas uma dor rápida e que é necessária para ela melhorar, para o bem dela.

No bairro Santa Clara as atividades acontecem quinzenalmente aos sábados, de 12h30 às 14h30 na Casa de Promoção e Caminho Bezerra de Menezes, também conhecida como a Casa do Caminho. Durante a semana, a casa se volta aos trabalhos de reabilitação de dependentes químicos, e aos finais de semana, recebe as crianças do bairro Santa Clara, crianças estas que provavelmente estariam sozinhas em casa no sábado em função do trabalho dos pais e têm a Casa como uma opção de aprendizados e lazer.

A casa do caminho conta com uma estrutura para atender essas crianças e tem disponível para a interação delas uma brinquedoteca, uma biblioteca, uma quadra, uma sala de artes e a sala onde são feitas as atividades educativas que demandam mais espaço com elas. Vale lembrar que em todos os espaços as crianças só interagem acompanhadas dos voluntários, ou seja, elas não ficam sozinhas em nenhum momento. Como a faixa etária é bem diversa as menores, em especial,  são acompanhadas até para irem ao banheiro.

As crianças passam a manhã envolvidas em atividades propostas pelos voluntários da Casa, almoçam por lá mesmo e à tarde é a vez dos voluntários do Cuidando do Ursinho, que são em sua maioria estudantes de Medicina e Enfermagem, entrarem em ação com as atividades lúdicas e educativas.

Já no bairro Nova Viçosa, os voluntários se revezam entre a terça e a sexta-feira na parte da tarde, e atuam com as turmas iniciais da Escola Municipal Padre Francisco José da Silva. A dinâmica é outra por se tratar de uma escola, uma rotina e um espaço diferentes, mas o propósito das atividades é o mesmo.

Ao final de cada atividade, os voluntários oferecem um lanche no qual os sucos e os biscoitos são fruto de uma pequena colaboração feita pelos mesmos, já que o projeto não dispõe de muitos recursos financeiros. As crianças são orientadas sobre a importância de lavar as mãos antes de comer, esperar e dividir o lanche, além de escovar os dentes após a refeição.

E são atitudes simples como essas, e principalmente o impacto que essas ações têm na vida das crianças que dão sentido ao projeto. É ver que as crianças levam os ensinamentos a sério, colocam em prática, orientam amigos e familiares, e aprenderam coisas que vão levar para a vida de uma forma leve e descontraída.

Ouvir de uma delas no próximo encontro, que ajudou o pai a proteger a casa contra a dengue, aprendeu e ensinou o irmão a escovar os dentes, não brigou e respeitou o coleguinha, percebeu que não existe brincadeira de menina e de menino, ensinou a mãe a fazer soro caseiro, dentre outros é o que fomenta o projeto, e orgulha todos os envolvidos, já que os impactos desse (des) construir brincando proposto pelo projeto são perceptíveis e presentes na fala de todos os envolvidos, sejam as próprias crianças, os responsáveis, os voluntários ou a coordenação do projeto.