Um dos criadores da Adwa Cannabis, Sérgio Rocha, afirma que “Inovação não pede licença, pede desculpas”, e acredita que o país tem um enorme potencial para produção de maconha para fins medicinais e industriais.<!–

No ano de 2737 a.c, o imperador Chinês ShenNeng entraria para a história inovando no tratamento de várias doenças. ShenNeng prescrevia chá de cannabis para pacientes com gota, reumatismo e malária. A planta medicinal se espalhou por todo o mundo, começando pela Ásia, África, Oriente médio e, posteriormente, chegou na Europa e nas Américas. Porém, mais de 4.500 anos depois da descoberta do imperador, a história da planta, conhecida pela maioria dos brasileiros como maconha, sofreria inúmeras transformações. A cannabis se tornou inimiga do estado em diversas partes do globo durante o século XX, o que paralisou os avanços dos medicamentos à base da planta.

Na Califórnia, estado norte americano que atualmente concentra o maior mercado de maconha legal do mundo, a “Lei do Veneno” foi aprovada em 1907, criminalizando a planta. Porém, já em 1996, a legalização para fins medicinais foi aprovada pela “Lei do Uso Compassivo”. Outros vários países também legalizaram a cannabis para fins medicinais, como Israel, precursor da legalização em 1993, Canadá em 2001, Porto Rico e Uruguai, ambos em 2015 e Colômbia e Chile em 2016.

O Canabidiol (CBD), um dos principais componentes da erva, pode atuar no tratamento de doenças como epilepsia, ansiedade, esclerose múltipla e dor crônica. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda, desde 2017, a não tratarem o CBD como uma droga. No Brasil, segundo a Agência Nacional De Vigilância Sanitária (Anvisa), 4.236 pessoas possuem autorização para fazer o uso de medicamentos à base da planta, compostos por CBD e também por Tetraidrocanabinol (THC), principal substância psicoativa encontrada na planta.

Além disso, o Cânhamo, como é conhecida no meio industrial, pode ser utilizada como matéria-prima pela indústria para a produção de diversos materiais, como produtos têxteis, alimentícios, cosméticos e até na construção civil.

Visando esse mercado crescente, o geógrafo e engenheiro agrônomo, atualmente mestrando em Melhoramento Genético pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), Sérgio Rocha, juntamente com Rafael Farias, graduando em Administração também pela UFV, criaram a Startup Adwa Cannabis, empresa focada no desenvolvimento de pesquisas e tecnologias voltadas para a cadeia produtiva da maconha no Brasil.

Linha do tempo “Maconha Medicinal no Brasil” [clique para ampliar a imagem]

Sérgio estagiou em uma empresa cujo foco seria produzir maconha, porém, para isso ser feito, dependia da regulamentação da Anvisa. Com a demora para se obter a licença, a empresa não conseguiu prosseguir no mercado. Sérgio conta que refletiu sobre qual produto poderia ser produzido, sem que fosse exatamente a erva, chegando a conclusão que deveria desenvolver tecnologias e pesquisas para a cadeia produtiva da cannabis e não a planta em si. “Eu percebi que havia essa crescente movimentação no país e identifiquei que existia uma demanda, já que o Brasil não tem tecnologia para realizar esta cadeia produtiva”, afirma.

Através de pesquisas, a ideia é concluir quais serão as etapas que os produtores deverão seguir para a produção em grande quantidade, tendo em vista que, para a Startup, o Brasil poderá se tornar um dos grandes produtores da futura commodity.

Um fato curioso é o da escolha do nome da Startup, que remete a Batalha de Adwa, ocorrida na Etiópia no ano de 1896. No combate, a Itália fracassou ao tentar invadir o território etíope. Devido ao fato de ter sido a primeira vitória militar africana sobre os imperialistas europeus, o duelo teve grande importância para o continente. Para conseguir derrotar os italianos, os etíopes utilizaram inúmeros conhecimentos sobre o clima e solo da região, fazendo superioridade à tecnologia italiana e conquistando a independência. Assim como os etíopes, através dos conhecimentos sobre a região e suas especificidades, a Adwa Cannabis busca o conhecimento sobre o clima, relevo e especifidades do território brasileiro para aprimorar o cultivo da planta no país.

A Startup ainda não possui a autorização para realizar o plantio, mesmo que para fins de pesquisa. Porém, o estudo realizado por Sérgio no programa de mestrado do Departamento de Fitotecnia da UFV está buscando essa autorização e espera-se uma resolução favorável sobre o caso. Segundo ele, “a tramitação na Anvisa está acontecendo de maneira relativamente rápida, caminhando de forma positiva e já até passou pela parte técnica do órgão, então espera-se um desfecho positivo em relação ao processo”.

Atualmente, algumas pesquisas executadas pela Startup não necessitam do acesso à cannabis, pois são mais básicas. Esses estudos dizem respeito ao manejo do plantio no país, onde estão as melhores regiões para plantar e como devem ser os ciclos da planta nos diversos locais do país. Mas, futuramente, com o possível acesso à planta, as pesquisas básicas serão de grande importância para estudos mais avançados.

Para Rafael, “alguns investidores ainda têm receio de se atrelar a esse mercado, em contrapartida, outros estão vendo o enorme potencial brasileiro, em comparação com o mercado estrangeiro.” O estudante afirma que “na lógica do capital, de produção em grande escala e baixo custo, a cannabis é extremamente rentável para os empresários”.

Sérgio acrescenta, dizendo que, “Inovação não pede licença, pede desculpas”. O mestrando acredita que, quando as inovações se tornam globais, exercem uma pressão, que já está sobre o Brasil diante do grande potencial do país se tratando deste tipo de cultivo agrícola. Para ele, “o governo brasileiro logo abrirá as portas para este mercado, mas isso será feito de uma forma controlada pelo estado, assim como foi feito em outros países.” Sérgio, porém, diz que não é possível ter alguma previsão de quando isso aconteça.