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Tudo que temos é um para sempre e um nada

O tempo é injusto e cruel, mas também é belo e motivador

Esse texto envolverá filme, livro, série e qualquer outra obra que tenha surgido na minha mente durante sua concepção. Hoje vou discorrer um pouco sobre o tempo.

Como somos apenas marionetes tentando controlá-lo, todos estamos correndo em busca de algo, uma casa, um emprego, um diploma, e estamos todos sendo soterrados pelo desespero de ser tarde demais, de não chegar a tempo, de nunca conseguir na data certa, estamos constantemente marcando cada segundo, tornando metas como algo preciso, e perdemos a visão de que nossa noção de tempo é apenas ilusão, é algo que foge do nosso controle, mas que somos egoístas ou medrosos ao extremo e não queremos admitir ou pensar que tudo isso funciona em uma regra que é diferente das nossas, não queremos admitir que talvez nunca tenhamos tempo suficiente, que algumas coisas talvez nunca se realizem, que vamos precisar reescrever o nosso tempo e dançar com as regras ditas pelo universo.

Reprodução Internet.

Em Soul, o protagonista fala que nunca teve tempo para ligar para uma mulher e a outra personagem questiona se ele vai esperar morrer novamente para ligá-la, e isso me fez pensar em como estamos sempre tentando encontrar um momento ideal, como estamos adiando coisas do presente por uma hipótese no futuro, sobre como na realidade estamos apavorados com a ideia de viver, pois viver é correr o risco de sofrer, mas também o risco de amar. O filme demonstra como o tempo pode ser voraz, de uma hora pra outra, o protagonista apenas morre, com sonhos nunca realizados, com uma ligação nunca feita, com uma conversa inacabada com sua mãe, e quando ele recebe sua segunda chance, agora ele apenas pensa é em viver, não por um futuro ideal, mas pelo presente imperfeito e maravilhoso que foi lhe entregue, pois essa é a única coisa real que temos, esse presente onde estamos rindo, chorando, curando, nos machucando, amando, e vivendo, pois o tempo é escasso e essa é uma sensação aterrorizante, mas também motivadora.

Reprodução: This Is Us

O final de This Is Us ainda vive na minha mente, não irei entrar em detalhes sobre como ele é feito ou como ocorre, mas acompanhar a jornada dessa família pelas décadas, suas dores e alegrias, suas conquistas e derrotas, é algo que arranca o fôlego, é uma série que carrega uma proposta muito simples, acompanhar uma família através do tempo, ver seu amadurecimento, seus laços sendo testados, a relação de três irmãos e seus pais, e como isso gera história para todos os lados, seja com seus futuros filhos, seja com seus futuros pares românticos, o tempo entrelaça tudo, e mesmo arrancando, algumas coisas se sustentam pelas décadas, algumas coisas nem o tempo é capaz de desgastar, pois foi um presente.

Randall fala como escolher as pessoas certas é o mais próximo de termos controle sobre o nosso destino, pois com o passar dos anos, tudo apenas se acelera ainda mais, e essa é facilmente uma das frases mais lindas que já ouvi, em um mundo sempre mudando, com coisas se acabando e se iniciando com uma facilidade assustadora, com nada sendo estável, saber que existem pessoas que ficaram ao nosso lado até o fim, pessoas que escolhemos e que nos escolheram, e mesmo sabendo que algumas relações nunca perduram, é lindo e raro imaginar que algumas se renovam com as estações, que talvez com sorte você encontre sua Beth e vivam essa relação que apesar dos desafios, o amor e o companheirismo supera tudo e ficam juntos até o final de suas vidas.

Não faço ideia de quantas pessoas nasceram desde que eu entrei na faculdade, acho que o mesmo vale para você, leitor, mas está acontecendo, neste exato segundo, pessoas estão vivendo suas histórias, criando suas próprias narrativas, escolhendo suas pessoas. E This Is Us é um convite para olhar ao seu redor e fazer o mesmo, para apreciar cada pequena paisagem, para degustar o amor, a poesia, as palavras, para dançar uma melodia que só os corações corretos são capazes de moldar, para encontrarmos o amor que nos traga paz ao nosso coração e espírito, pois como a música que a Rebecca em sua velhice, depois de uma vida inteira e olhando para seus filhos já casados e com suas vidas feitas canta:

The years can be counted in seconds and that’s fine with me

Cause I get this moment with you forever now

Tradução: “Os anos podem ser contados em segundos e por mim tudo bem, porque eu tenho esse momento com você, para sempre agora.”

Essa música é o significado de toda a série, os anos se passaram, o tempo que parecia infinito se tornou finito, o fim já era algo próximo, podendo ser visto pelo horizonte, os filhos cresceram, os netos nasceram, e ela sabe que não estará mais presente na vida de todos, que logo existirá histórias que estarão sendo contadas pós sua morte, novos começos, novos casamentos, novas crianças, novas conquistas e derrotas, mas que tá tudo bem, que o final que o tempo carrega apesar de ser triste, mostra como tudo aquilo valeu a pena, como ela foi marcante, como ela teve todos aqueles grandes e pequenos momentos com sua família, como ela os amou, como ela sofreu, como ela continuou vivendo, e mesmo com a dor de partir e deixá-los, para sempre existirá sua história, e mesmo quando for esquecida, para sempre existirá em sua memória, não faço ideia do que ocorrerá depois que morreremos, mas não acho que esqueçamos de tudo que vivemos, nos meus sonhos mais ingênuos, ficamos para sempre com quem amamos, na paz de um para sempre.

Estamos sempre tentando agarrar o tempo perdido ou o tempo que virá, e esquecemos de tudo que podemos viver agora, das coisas maravilhosas ao nosso redor, até mesmo como o tempo nos define e precisamos deixá-lo de lado para vivermos certas coisas.

Reprodução: Memórias de Ontem (1991)

Memórias de ontem é uma das animações mais peculiares do Studio Ghibli, alterando entre nossa protagonista adulta e suas memórias da infância, notamos como aquele passado onde ela irá incompreendida, apenas sendo definida pela sua dificuldade em aprender matemática a marcou pelo tempo, mesmo adulta e feliz trabalhando no interior, ela ainda tem receio pelas marcas dessa passado distante, pelo tapa na cara que recebeu de seu pai, pela falta de compreensão de sua mãe e irmãs, pelo fato dela ter sido uma criança que teve a chance de ser atriz negada, mas com o passar do tempo no interior, com essas relações sendo criadas e até mesmo um romance que é feito com uma calmaria e cuidado, ou seja, com o passar do tempo e relembrando suas memórias, ela decide permanecer no interior e deixar sua criança no ônibus, assim, deixar os traumas e o medo criado no passado, o tempo ajuda ela a se curar, ela vivendo cada pequeno segundo no interior, pensando e sorrindo, fez com que ela finalmente perdesse o medo de aproveitar sua própria vida, de tomar suas próprias decisões, de se arriscar, pois sua criança já se foi e agora ela tem o tempo como a mulher adulta que se tornou, e é dever dela saber como viver, da mesma forma que é nosso dever saber como vivermos com o agora, com essa versão atual que somos, que carrega tantas histórias.

Reprodução: Memórias de Ontem (1991)

Essas narrativas demonstram várias facetas do mesmo elemento, do poder do tempo sobre nossas vidas, sobre como só podemos fazer escolhas no presente, viver o presente, olhar para o presente, pois o tempo é um Deus sem moral, um Deus que não se importa com a humanidade, ele apenas segue os caminhos que ele gosta e lidamos com isso.

É uma forma de talvez sorrimos para cada segundo, tentar fazer valer cada minuto e tem tantas formas de fazer isso, apreciando uma boa refeição, um bom livro ou filme/série, seja segurando na mão do garoto ou garota que você ama, seja observando o sorriso de uma pessoa querida, até mesmo as coisas mais simples completam nossas vidas, fazem o dia fazer sentido, fazem essas sensações serem eternas.

Pois como nos é apresentado no livro A morte de Ivan Ilitch do Lev Tolstói, é impossível não refletirmos sobre toda nossa vida em nossos últimos momentos, é impossível não olharmos para todas nossas escolhas, sobre como utilizamos o tempo que nos foi permitido, sobre cada um desse percalço que chamamos de viver, somos forçados neste ponto aceitarmos tudo, o todo, a trajetória que parecia impossível.

Pois não somos capazes de voltar no passado em nosso leito de morte, apenas mentalmente, apenas olhando para ele como um caminho traçado que já se foi, e acho que deve ser um alívio olhar para sua vida e perceber que você realmente viveu, e existem tantas formas de fazer isso, não acho que exista um roteiro ou maneira certa de viver, apenas procure aquilo que te faça sentir vivo, seja correndo pela manhã, viajando, faça cada segundo ser sobre um menos segundo de “vida”, pois você está vivendo.
E acho que todos nós queremos sentir o tempo fluindo sabendo que ela está sendo utilizado, metas são irreais, estamos mudando, e poucas coisas nas nossas vidas vão ser certezas absolutas, caso encontre alguma, aproveite, é raro.
O fundamental passou em um piscar de olhos, o ensino médio acabou em um suspiro, a faculdade passa em uma velocidade desconcertante, quando notamos, estamos mais perto dos 30 do que da infância, e tá tudo bem, é o poder de viver, é o poder de aceitar tudo como é. Amigos agora se tornaram pais, sobrinhas existem, pessoas se casam, você já imagina seu noivado pós faculdade, existem tantas coisas sendo criadas com o tempo, tanta beleza.

Esse texto é uma grande desculpa para desabafar sobre meus próprios medos e anseios, pra despejar pra fora e prosseguir. Tenho medo de não ter tempo suficiente com o amor da minha vida, tenho medo de não ter tempo suficiente com minha irmã, tenho medo de não ter tempo suficiente com os meus melhores amigos, mas tenho mais medo ainda de focar e me perder no meu próprio medo, por isso, escrevo esse texto como uma carta para mim e para vocês, vamos apenas viver até que o amanhã chegue.

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