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Crítica| Heartstopper-1ª temporada

Se você está em busca de uma produção audiovisual que te faça sentir quentinho no coração nesse mês dos namorados, Heartstopper é, sem sombra de dúvidas, uma opção certeira.

A série se baseia em uma WebComic de romance LGBTQIA+, produzida pela escritora, ilustradora e roteirista inglesa, Alice Oseman, que depois passou a se tornar uma coleção de quadrinhos publicada pelo Hachette Children’s Group, editora de livros infantis do Reino Unido, e no Brasil, pela editora Seguinte. A história do jovem casal gay que já havia conquistado vários fãs por meios das páginas literárias deixou a sua marca também nas telinhas. 

Reprodução: internet

A adaptação televisiva do romance que conta com oito episódios de duração entorno de 30 minutos foi realizada pela plataforma de streaming Netflix e teve como um dos produtores executivos a própria autora dos HQs que também roteirizou a produção. Além disso, foi dirigida pelo premiado Euros Lyn conhecido por sua direção em séries como Doctor Who e Sherlock.   

Estreada no dia 22 de abril de 2022, a trama narra a vida de Charlie Sring (Joe Locke), um jovem estudioso que passa por bullying em sua escola, Colégio Truham só para rapazes, após se assumir gay, e por conta disso se torna bastante inseguro. Ao mesmo tempo, nos apresenta Nick Nelson (Kit Connor), um garoto popular e muito conhecido por fazer parte do time de Rúgbi. Após serem escolhidos para realizarem um trabalho em dupla, os dois têm suas vidas transformadas e desenvolvem uma amizade muito forte. 

Os encontros matinais desencadeiam em Charlie sentimentos para além da amizade que se fortificam mais ainda quando Nick o ajuda a enfrentar uma relação tóxica que Spring estava vivenciando com o também estudante do colégio, Benjamin, (Sebastian Croft). A partir daí, Nick, que até então se considerava hetero, também passa a se questionar sobre como se sente em relação a Charlie e, aos poucos, percebe que está apaixonado por seu novo amigo. 

A química entre o casal é demonstrada logo nos primeiros capítulos e é conduzida até o final da primeira temporada, afirmando o amor homoafetivo como algo positivo e não foca apenas nos sofrimentos que o casal passa, mas sim na capacidade de conexão e diálogo que a relação dos dois possuí. Fato esse que desvencilha o tão problemático queerbating (prática que utiliza a temática LBGT para atrair popularidade em produções artísticas) muito corriqueiro em produções televisivas que fazem seu público acreditar em uma possibilidade de um romance promissor entre pessoas de mesmo sexo, porém acabam rompendo com essa possibilidade seja fazendo os personagens se separarem ou ainda morrerem. 

Reprodução: Netflix

Para além do romance entre os protagonistas, a série aborda as vivências do grupo de amigos protetores de Charlie que é composto por Tao (William Gao), seu melhor amigo que brinca por se referir a si mesmo como a cota hetero do grupo, Elle (Yasmin Finney) sua melhor amiga que é uma menina transexual que é transferida para o colégio vizinho só para garotas, Colégio Harvey Greene, e seu amigo Isaac (Tobie Donovan), um garoto reservado que gosta de ler e que acaba não recebendo tanto destaque na história, apesar de ser um personagem com muito potencial para tal. 

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A representatividade é sim um tema constante na série, mas essa, por sua vez, não é tratada de forma forçada ou ainda estereotipada, o foco da história da personagem Elle, por exemplo, não é o seu processo de transição ou a transfobia, apesar de citá-las, a trama coloca Elle diante de dilemas como formar novas amizades, estando em um novo colégio e o surgimento de uma paixão pelo seu melhor amigo Tao, problemas comuns a qualquer indivíduo em fase de crescimento.  

A produção conta também o romance entre Tara (Corinna Brown) e Darcy (Kizzy Edgell), duas garotas que se tornam amigas de Elle no novo colégio, e consequentemente de Charlie e seu grupo, que após se assumirem lésbicas publicamente passam a ter que lidar com comentários preconceituosos de outras pessoas. O relacionamento das duas jovens traz para trama, portanto, uma discussão de uma outra etapa dos relacionamentos homoafetivos e, assim como o romance de Charlie e Nick, entrega diálogos sinceros sobre sentimentos, o que faz com que nos cativemos mais ainda pelas personagens. 

A obra é recheada de afeto e tem o apoio dado pelos pais dos protagonistas como um arco importante para o enredo. Há diversas cenas em que vemos tantos os pais de Charlie, que já era assumidamente gay, Jane e Julio, (Georgina Rich e Josepeh Balderrama) e sua irmã Tori (Jenny Walser), quanto a mãe de Nick, Sara Nelson (Olivia Coman) exercendo belos momentos de escuta e acolhimento de seus filhos, ressaltando o quanto é necessário o papel da família para a saúde mental de adolescentes queer. 

A ambientação das cenas com elementos que refletem os gostos dos personagens como a música, a presença de símbolos da comunidade LBGTQIA+ como o broche do Mr. Ajayi, professor que várias vezes recebe Charlie e o aconselha em sua sala repleta de artes e os efeitos especiais como a presença de elemento dos quadrinhos como os traços dos desenhos de Alice Oseman tornam a narrativa ainda mais aconchegante.  

Reprodução: Netflix

É possível dizer que o que a série traz de inovador não é necessariamente o seu enredo, mas sim a forma como decide contar os fatos. Se trata sim de um romance em que o personagem nerd e o personagem mais popular da escola se apaixonam, é sim um clichê adolescente, mas é um clichê com gostinho de real. A juventude e o processo de amadurecimento são abordados na história também como personagens principais, pois apesar de serem encenados, se aproximam bastante de situações que naturalmente poderiam ocorrer com qualquer jovem o que possibilita que o público, seja homoafetivo ou não, se identifique com o que está vendo e é o que torna a adaptação um projeto muito especial e certeiro no que se propõe. 

E para quem já está com saudade do casal queridinho, a Netflix já anunciou a estreia da segunda temporada para o dia 3 agosto desse ano. E se eu fosse você não perdia essa! Marca a data na agenda e chama o chush, os amigos e a família para assistir, fica aí a dica de um programão para se fazer na companhia de que você ama!  

Nota:

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