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Crítica: Bohemian Rhapsody

Atuação do protagonista e trilha sonora são o que salvam a cinebiografia acomodada da banda que não teve medo de ousar

Cinebiografias são conhecidas por estarem em dois extremos. Ou utilizam uma versão não autorizada – e saem com uma história que explora mais o apelo polêmico – ou partem da narrativa oficial – com acesso a detalhes inéditos, mas com o risco de ser algo superficial. Mas tratar o filme que conta a história de uma das bandas mais icônicas por um fórmula não é o passo seguro que o roteiro de Bohemian Rhapsody deveria ter tomado. A história linear – com uma crescente, um conflito e uma redenção – funciona com diversas personalidades recriadas neste gênero, como em A Teoria de Tudo (2014), mas esta não faz jus à banda que desafiou o sistema com sua ousadia.

O roteiro preguiçoso de Anthony McCarten (responsável por A Teoria de Tudo) se acomodou à fórmula, apresentando a formação da banda, o sucesso, as brigas, o desmanche e a reunião a tempo da apresentação no Live Aid, em 1985, de forma quase esquemática. Muitas vezes cai nos clichês e convenções de demais cinebiografias, pouco se esforçando para aprofundar as relações entre os personagens. É preciso se valer de algumas adaptações – como a forma que a banda foi formada, o rompimento temporário e a data do show no Rock in Rio – para ter uma boa dinâmica narrativa, mas alguns eventos se tornam banais sem um encadeamento mais elaborado. A direção também é um dos pontos fracos: com a saída de Bryan Singer depois de dois terços das gravações já feitas, o longa sofreu com escolhas questionáveis em diversos momentos. A sequência do clímax, a apresentação no Live Aid, mesmo com alguns movimentos de câmera, se tornou apenas uma replicação do que já é conhecido, ancorada na performance de Rami Malek, mas que foi prejudicada pela plateia em CGI. Felizmente, o longa não deixa de fora a sexualidade de Freddie, com tempo necessário de tela e sem omitir beijos e carícias apenas para agradar um público mais amplo.

Não se pode negar, no entanto, é a entrega de Rami Malek no papel de Freddie Mercury. Malek entregou uma ótima interpretação, replicando os trejeitos do vocalista e tendo sua voz mixada com a dele e de outro cantor. Não é à toa que ganhou o Oscar de Melhor Ator, o Globo de Ouro de Melhor Ator Drama e Melhor Ator no BAFTA pela performance. A caracterização de todo o elenco é extremamente realista, mostrando o cuidado com esse aspecto. O diretor de fotografia, Newton Thomas Siegel, conseguiu tornar tudo ainda mais fiel – Malek, inclusive, ficou ainda mais parecido com Mercury com o jogo de iluminação.

Apesar das músicas serem mais uma trilha de fundo em algumas cenas que refletem seus significados, é impossível não cantarolar e imergir nos sucessos da banda. O ar didático e sem muito aprofundamento do processo de composição ainda está ali – um agravante que, ao mesmo na versão trazida aos cinemas brasileiros, seria aliviado com uma legenda das letras. Love of my Life, We Will Rock You e Bohemian Rhapsody têm uma atenção maior ao preencherem buracos no enredo e o trabalho de John Ottman como montador foi fenomenal, com cortes e transições que deixaram o filme mais dinâmico.

De qualquer forma, é interessante ver os bastidores de uma banca icônica que marcou época e esperar cada momento para cantarolar cada clássico do Queen. Mesmo que, ao seguir uma fórmula, Bohemian Rhapsody não seja exatamente a cinebiografia esperada de uma banda que ficou conhecida por quebrar convenções e surpreender com cada nova ousadia.

 

 

Nota do filme:

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