domingo, maio 19

Muito mais que o play: DJs e a vivência profissional em Viçosa

No Brasil, são diversos os DJs que despontam como grandes sucessos, chegando aos rankings internacionais. A Revista DJ Mag faz anualmente uma seleção dos TOP 100 DJs mais famosos do mundo. Nas últimas edições, foram três brasileiros que estiveram presentes nessa lista, apontando nosso país como referência nesse cenário. Porém, apesar do panorama brasileiro ser positivo, existem diversas complexidades acerca do mercado de trabalho, que requer muito esforço, estudos e investimentos daqueles que desejam seguir a carreira de DJ.

Cenário do interior mineiro

Apesar da possibilidade do caminho de sucesso, existem dificuldades na carreira, como o desconhecimento e desvalorização do público, valor dos equipamentos necessários para a profissionalização e dificuldade de entrada no mercado. Nas cidades do interior, algumas dessas situações são amenizadas, enquanto outras se mantêm. 

Conheça os DJs mantêm viva a cultura do vinil em Viçosa

É o que diz Vitor Tallarico, conhecido como DJ Tallarico, de 23 anos, que no início de sua carreira tentou crescer na capital mineira: “Para mim, é muito melhor o cenário do interior do que da cidade grande. Eu sou de BH, e lá eu tocava muito pouco”, disse Tallarico, afirmando que o mercado de trabalho de Belo Horizonte é muito fechado nos mesmos artistas, que têm sempre as mesmas setlists. Para ele, em Viçosa existem mais oportunidades, especialmente pela diversidade nas festas e eventos na região. 

DJ Farol se apresentando em Viçosa no Reveillon de 2022 – Foto: Reprodução/Instagram

Quem também concorda com essa ideia é Alan de Souza (32), conhecido na cidade como DJ Farol, que disse já ter tocado em cerca de 40 cidades mineiras, mas que nenhuma se compara a animação de Viçosa: “Viçosa é uma cidade universitária, é diferente. A animação e o público em geral aqui é bem melhor que em outros lugares”, disse Alan, que atua na área desde 2006. 

Adversidades da carreira

Mesmo com os benefícios que Viçosa pode proporcionar aos que desejam entrar no mercado, há uma “deficiência cultural”, de acordo com Cristiano Paiva (34), que se apresenta como DJ TiC. O artista, que toca desde os 16 anos, diz que a profissão ainda é muito desvalorizada e, mesmo com as festas universitárias de Viçosa, ainda existem diversos obstáculos a serem enfrentados. 

Um desses obstáculos é o desconhecimento do público e dos contratantes sobre o esforço que a profissão exige, seja na questão financeira ou nos estudos necessários para se tornar um DJ. Afinal, diferente do que muitos pensam, não é apenas “apertar o play”. DJ Farol toca há 16 anos, mas diz que sempre é necessário se aprimorar e voltar aos estudos, já que constantemente surgem inovações em equipamentos e recursos. 

DJ Tic em apresentação – Foto: Arquivo pessoal

“O apertar o play é bem antigo, sempre existiu. Para muitos, a execução do trabalho parece ser extremamente fácil, mas precisa de muito conhecimento musical: os BPM, que são as batidas da música, saber sentir a energia da festa, dentre vários outros”

disse DJ TiC. 

Profissão de alto investimento

Outra dificuldade na profissão é o alto custo dos equipamentos básicos. Para iniciar profissionalmente, é necessário um equipamento chamado “controladora”, ferramenta essencial para o trabalho dos DJs, que conta com botões e codificadores, que misturam a música ao software de mixagem.

Estes dispositivos refletem um grande investimento na carreira destes profissionais. Afinal, uma controladora pode chegar a custar cerca de R$30.000,00. De acordo com o DJ Tallarico se trata de um mega investimento, já que os fios e materiais como luzes e caixas de som também tem um alto custo.  

DJ Farol diz que sua próxima aquisição será uma controladora de mais de R$18.000,00. Por isso, se torna muito difícil aceitar um cachê abaixo da média que os DJs necessitam para manter seus materiais atualizados: “Já tive vários equipamentos, sempre troco e o valor é muito alto. E tem alguns contratantes sem noção, que pedem para fazer mais barato. E tem pessoas que cedem e vão por hobby, mas essa é minha profissão mesmo”, disse o DJ, apontando as dificuldades não apenas na aquisição dos aparelhos tecnológicos de trabalho, mas também no retorno esperado vindo dos organizadores de evento.

DJ Tallarico fazendo apresentação em festa LGBTQIA+ – Foto: Arquivo pessoal

Além disso, o lucro das apresentações também deve cobrir outras questões. Por exemplo, os DJs, em certos eventos, podem estar vulneráveis ao acesso do público. Pensando que nas festas o consumo de bebida alcoólica muitas vezes é liberado, as controladoras, que possuem um alto custo, se tornam de fácil acesso às pessoas que estão ali presentes. 

DJ Tallarico explica que, atualmente, sofre com as consequências desse fácil acesso. Recentemente, em uma festa, foi derrubada cerveja na sua controladora, fazendo com que ela se danificasse. Ele, que tinha mais três shows marcados, teve que desembolsar R$2.700,00 para adquirir uma nova. 

Apesar dos obstáculos enfrentados, Viçosa é uma cidade em que o mercado de trabalho aos DJs é bastante promissor e aberto a novos artistas. Esse cenário positivo se dá por três motivos: o público caloroso, a demanda de festas na cidade e a aceitação da audiência a novos talentos. 

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