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Maria das Dores da Silva Oliveira (1952-2020)

O que ela mais gostava na vida eram os filhos, netos, mangas e viajar para conhecer lugares.

Maria das Dores no documento, mas preferia Dora. Para os mais íntimos, era Dorinha. Para os filhos, veinha gostosa.

Saiu muito nova do Ceará para buscar a vida no sudeste. Trabalhava em casa de família, cozinhava e era babá. Mas sua paixão era costurar e considerava sua velha máquina a sua herança. A costura, além de trazer alegria, foi essencial para que conseguisse criar os sete filhos. E mesmo já não enxergando tão bem, o dom era o mesmo, como pôde ser visto na blusa que usou no Natal e no vestido do Ano Novo, ambos feitos por ela.

Arretada como uma boa nordestina, desde sempre falou que nunca iria deixar nenhum homem bater nela e em suas filhas. Dizia que depois do primeiro tapa vinham outros e que não admitia que isso acontecesse. Esse era um assunto tão sério para Dora que, certa vez, uma vizinha bateu à sua porta pedindo socorro e ela quase saiu correndo atrás do marido da moça com um pedaço de pau na mão.

Mulher brava, que só no olhar passava sua reprovação e fazia com que os filhos, do mais velho ao mais novo, abaixassem as cabeças. Mas ela sempre relembrava que não queria que tivessem medo dela e sim, que a respeitassem.

Amava muito seus filhos. Os olhinhos brilhantes quando falava deles eram mais que notáveis, cheios de orgulho. Talvez por isso, era muito ciumenta com eles. Mesmo se estivesse nervosa com os filhos, não tinha uma vez que falava com eles e que não seguia um mesmo costume: dizia “Deus te abençoe” no início da conversa e “Eu te amo” ao final. Isso vai sempre ficar marcado no coração de sua família.

Gostava de tudo um pouco. Ia ao forró de vez em quando, dançava rock n’roll, amava Roberto Carlos e sempre ouvia um sertanejo. Com ela não tinha tempo ruim. Mas também era uma mulher teimosa, se ela não quisesse sair de casa, não tinha ninguém que a fizesse mudar de ideia. Seu último aniversário foi a personificação da alegria. Foi o último encontro com, praticamente, todos os seus filhos e ela chorou de felicidade.

Dorinha amava a praia e sua alegria quando estava com os pés na areia era nítida. Chegou a morar por um tempo perto do mar, porém sentia muita falta dos filhos e dos netos. Talvez, mais dos netos… Ela era louca por eles e eles, por ela.

Sempre dizia que seu trabalho estava feito, agora que todos os filhos estavam casados e bem-criados. Uma pena ela não poder fazer o mesmo pelos netos que tanto amava.

Em época de pandemia, teve pouco contato com os filhos. Eles deixavam os mantimentos na porta e não entravam na casa. Ela era muito carinhosa e amava contato. Então, sempre que os via, perguntava se podia abraçar e beijar, e eles tinham que dizer não, pois era o melhor para ela. Em uma das últimas vezes que sua filha Mariane foi a sua casa, Dora a pediu um beijo e ela disse que não poderia dar. Mas vendo a carinha triste da mãe, ela abaixou a cabeça e deixou que desse um beijo em sua testa. Este foi o último beijo que Mariane recebeu de sua mãe.

Maria nasceu em Sobral (CE) e faleceu em Guarulhos (SP), aos 68 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela filha de Maria, Mariane Oliveira do Nascimento, para Lara Bernardes. Publicado no portal inumeraveis.com.br em 13 de setembro de 2020.

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