Pular para o conteúdo

Letícia Neworal Fava (1991-2020)

Autônoma, responsável e maravilhosa.

Letícia, a primeira de duas meninas. Teve seu nome cuidadosamente escolhido pelo seu significado, que resume tudo que foi e trouxe para sua família: alegria.

Era independente, lutava pelo que achava correto e nunca deu trabalho.

Na escola, não era reconhecida por ser uma aluna exemplar ou por suas notas altas, mas sim pela sua personalidade marcante. Sem qualquer dificuldade, Letícia criava fortes vínculos em todos os ambientes que frequentava. Dona de amizades sinceras, era considerada a “mãezona” do grupo, pois se preocupava e cuidava de todos, apesar de ser a mais nova. O seu dom de se relacionar perpassava até mesmo seu círculo de amizades, já que até os amigos dos pais gostavam dela e faziam questão de tê-la por perto.

Durante sua trajetória escolar, Letícia sempre participava de diversas atividades esportivas, independente da modalidade. Esse foi um fator importante no momento de decidir o que faria quando se formasse no ensino médio.

Amava esportes, mais precisamente o futebol. Quando criança torcia para o Palmeiras, assim como o pai. Mas aos 5 anos, determinadamente, pegou sua camiseta verde e decidiu que não a usaria mais, pois agora, como sua mãe, era corintiana de alma alvinegra.

Apesar deste apreço pelo esporte, seu teste vocacional abriu seus olhos para uma nova área que se encaixava perfeitamente: a Comunicação. Assim que se formou no ensino médio, iniciou sua graduação em Jornalismo pela Universidade Mackenzie, em São Paulo. Levava uma rotina gostosa. Na faculdade, era benquista por seus professores, que a descreviam como uma menina meiga, responsável e pronta para tudo.

Ao terminar o curso, não conseguiu emprego. Foi aí que embarcou na sua primeira aventura: um intercâmbio para os Estados Unidos, onde trabalhou como babá. Letícia não teve uma adaptação fácil, mas como sempre, conseguiu cativar a família estadunidense com o seu jeitinho — e eles a adoravam.

Vivendo em um lugar diferente, Letícia passava por altos e baixos. A saudade da família apertava e, quando ela mais precisava, quem estava do seu lado era sua melhor amiga: Laura, a sua mãe, que mesmo de longe era quem a colocava de volta nos eixos.

Voltou para o Brasil uma nova mulher: independente e rica em conhecimento.

Na viagem, Letícia cultivou suas habilidades e descobriu um novo dom: o de cozinhar. Como babá, precisava colocar a mão na massa e se aventurar na cozinha — para ela isso nunca foi um problema. Empenhava-se ao produzir diversas receitas, e, com orgulho, mostrava a todos o verdadeiro gostinho brasileiro. Curiosa e determinada, não se importava se fosse doce, salgado ou até mesmo uma receita que nunca havia tentado antes. Tão grande era sua fama como “mestre-cuca” que até tinha um prato próprio e que fazia sucesso entre sua família: o famoso “bolinho de carne da Lê”.

De volta ao Brasil, em 2016, ingressou no ramo que tanto desejava: o Jornalismo Esportivo. Trabalhava como analista de marketing e mídias sociais na Universidade do Futebol e sonhava em ser reconhecida e se realizar profissionalmente. Não só era exigente em seu trabalho, mas também em casa. Foi uma menina amorosa e muito educada, mas brava. Se preciso, brigava quantas vezes fosse necessário pelo que achava certo.

Mesmo assim era doce e foi tudo para sua família. Orgulhava-se muito de sua irmã, Giullia. Mesmo tendo pequenas discordâncias, amava muito seu pai e em seu coração sempre esteve a sua mãe.

Letícia viveu intensamente e fez tudo que queria, sem qualquer medo. Tinha espírito livre, como um pássaro, sempre voando em busca de um novo destino. Hoje suas asas batem em um novo lugar e, de lá, canta para acalentar o coração de quem jamais esquecerá o sorriso marcante que possuía.

Letícia nasceu em Jundiaí (SP) e faleceu em Jundiaí (SP), aos 28 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pela mãe de Letícia, Laura Neworal, para Gabriela Möller. Publicado no portal inumeraveis.com.br em 16 de setembro de 2020.

X