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Cecília da Conceição Souza (1970-2020)

Amor ao próximo nunca faltou. Viveu primeiro para os filhos, depois para si.

Em meio a uma família que antes era composta de 17 filhos, Dona Cecília era a mais nova dentre os 9 ainda vivos. Ser a caçula, porém, não a impediu de ser dona de muita sabedoria acumulada pelas diversas situações que o mundo lhe colocou para encarar ainda muito nova.

Pouco após ficar viúva, aos 22 anos, batalhou contra tudo e todos para criar os filhos Cínthia e William. Eles eram, de longe, o seu maior orgulho, assim como ela era o deles também. Um pelo outro. Cuidava deles mesmo depois de adultos. Era sempre a companhia e a conselheira de Cínthia, moravam juntas e se apoiavam. Na formatura de William, saiu do interior para prestigiá-lo na capital Belém. O ônibus quebrar no meio do caminho não foi nenhum empecilho para ela alcançar seu objetivo: pediu carona na estrada e, de quebra, fez amizade com o motorista. Tudo para ver o filho. Mesmo um morando a seis horas de distância do outro, não havia um dia sequer em que deixassem de fazer uma chamada para se verem e contarem novidades.

Aliás, de amizades ela entendia bem. A intuição não falhava quando conhecia alguma amizade dos filhos. De longe sabia dizer ”esse presta” ou ”esse num presta não”. Ela própria era muito boa em cativar e criar laços com os outros, sendo sempre a alegria dos encontros de família. Tinha um papo bom, um conselho esperto e sempre fazia uma comida gostosa.

Cozinheira incrível, diga-se de passagem. Tinha a “barriga cheia”, e qualquer um que fosse fazer uma visita era recebido com uma verdadeira quitanda preparada com o carinho e a dedicação que acompanham uma boa comida caseira. Puxava um papo, ia fazendo um café, e assim se passavam horas e horas de conversa boa e bolos maravilhosos. Cada vez que William ia visitá-la, podia saber: voltava com uns quilinhos a mais por causa de tanto mimo. Mimar, inclusive, era algo que ela adorava fazer com os três netos. Coisa que até provocava ciúmes de vez em quando, tamanho era o zelo que dedicava a eles. Sob a tutela da avó podiam tudo, e a alegria dos momentos juntos era resultado de um elo muito especial.

Apesar da vida humilde, nunca deixou de dar sempre o máximo que podia aos filhos. Isso, inclusive, era algo que buscava ensinar a eles. ”Sempre queira o melhor, mesmo que demore mais. Sempre compre o melhor. Pra que pagar mais barato, se depois vai ter que comprar outro?”, dizia. Nas festas da cidade, fazia questão de juntar o que tinha e comprar-lhes roupas novas só para poderem ir, ainda que ela mesma ficasse em casa. Amante de ciclismo, fez o que pôde para presentear cada um dos netos com uma bicicleta.

Dona Cecília também tinha outros hobbies. Amava as flores, gostava de cuidar da terra e era muito habilidosa no crochê. Hoje, são as plantas que mantêm cultivado o amor de uma mãe e avó imensamente carinhosa, e em cada malha dos crochês estão entrelaçados o amor e a dedicação que ela punha em cada uma de suas atitudes. Essas foram as coisas que mais a marcaram. E farão falta.

Cecília nasceu São Domingos (MA) e faleceu Marabá (PA), aos 49 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Cecília, William Souza, para Stela Maris. Publicado no portal inumeraveis.com.br em 12 de setembro de 2020.

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