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Archibaldo Pereira da Silva (1941-2020)

Em ritmo de “deixa a vida me levar”, Quiba era um carioca da gema com muita história para contar.

Archibaldo, conhecido por todos como Quiba, era pagodeiro, cervejeiro, um “bon vivant” e torcedor do fluminense. O típico carioca da gema!

Militar reformado e anistiado, atuou durante o golpe militar de 1964, recusou-se a agir nas perseguições políticas e torturas. Para se proteger e proteger sua família, precisou se refugiar na Cidade de Deus, onde criou seus dois filhos.

Por morar numa comunidade, ensinou os filhos a não entregar os outros, não prometer se não pode cumprir e, se dever a alguém, pagar o quanto antes. O maior deles era: “Respeite as cabeças de algodão” – ensinando-os a respeitar os mais velhos. Ensinamentos esses que os filhos, Adilson e Edilene, levam como verdadeiros mantras até hoje

Voltou às forças armadas somente durante o governo Collor, quando reverteu o quadro e pôde atuar no cais de porto. Apesar de apenas três netos de sangue, ajudou muitas famílias e adotou muitos netos por aí, graças ao seu conforto, proporcionado por duas aposentadorias.

Disciplinador, foi linha-dura na criação dos filhos, “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”, dizia ele. Todo o amor era reprimido durante a criação dos filhos, para manter a pose de “durão”. Foi somente após o nascimento dos netos, que esse “durão” não conseguiu mais resistir em expressar o amor que sentia por eles e pela família.

Católico, promoveu por mais de vinte anos, junto da sua amada esposa, Eny, o Encontro de Casais com Cristo. Eles iam às igrejas e se reuniam com casais da região, para discutir todos os impasses, entraves e as pequenas e grandes alegrias da vida a dois.

Morador do bairro Cabuçu, Quiba era muito conhecido onde morava. Foi presidente e patrocinador do time “Ipiranga Master Futebol Clube”, conhecido também como “futebol de coroa”, contou Adilson, seu filho.

Além de colecionador de bonés e chaveiros, tinha também a mania de assobiar sem som, geralmente, para demonstrar sua alegria. Normalmente, isso acontecia após alguns copos de Antarctica gelada, enquanto ouvia Zeca Pagodinho, dizendo: “Devagar também é pressa”.

Viveu intensamente, aproveitou a vida e ajudou muitas famílias. Agora, foi sambar na gafieira do Céu, com o seu sapatinho branco.

Archibaldo nasceu no Rio de Janeiro (RJ) e faleceu em Niterói (RJ), aos 79 anos, vítima do novo coronavírus.

Tributo escrito a partir de testemunho concedido pelo filho de Archibaldo, Adilson Pereira da Silva, para Aline Brites. Publicado no portal inumeraveis.com.br em 23 de julho de 2020.

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