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Crítica | Morte Morte Morte

Como um filme que equilibra gêneros opostos pode se tornar um clássico da nova geração?

Morte Morte Morte foi lançado em 2022 num gênero pouco comum, terror/comédia, que tem uma trama e atuações surpreendentes. Desde quando foi anunciado, recebeu muitas críticas, tachado como uma cópia superficial de Pânico. Isso não podia estar mais longe da verdade.

No começo do filme, acompanhamos um casal, Bee e Sophie, indo encontrar os amigos de infância de Sophie em uma mansão. Bee, que é imigrante e vem de uma realidade trabalhadora, não se conecta ao resto do grupo, que são ricos e despreocupados; por isso, se sente deslocada ao ser introduzida a eles. Quando um furacão chega perto de onde estão, todos concordam que o melhor passatempo é um jogo chamado “morte morte morte”.

A brincadeira consiste de um grupo em que um é designado o assassino em segredo, enquanto os outros devem se esconder para não serem “mortos”. Mas então os integrantes começam a serem assassinados de verdade, a energia acaba e eles ficam sem contato com o mundo exterior, o que força os jovens a tentar desvendar o mistério; brigam, se divertem e culpam uns aos outros.

Uma das melhores partes da obra é a individualidade de cada personagem e o fato de que os secundários se destacam mais que os principais, de propósito. Primeiramente ,conhecemos as protagonistas. Sophie acabou de sair da reabilitação e caiu de cara em um novo relacionamento com Bee, que é tímida, quieta e só quer que os outros gostem dela. O mais divertido vem quando elas chegam em seu destino e conhecemos os outros. David, dono do lugar é o estereótipo de garoto rico, gosta de esbanjar o que tem, mas não gosta que os outros façam o mesmo. Emma, namorada dele, é insegura e está constantemente tentando fazer o que ela acredita que os outros querem. Jordan, é grossa, sincera e não gosta de contornar situações. Alice é divertida, engraçada e adora ser o centro das atenções e Greg, seu namorado, também desconhecido, é muitos mais velho que eles, mas não tem medo de mostrar que é confortável consigo mesmo.

Reprodução: Morte Morte Morte

[SPOILER]

Logo, fica claro que os recém-chegados estão sendo perseguidos pelos outros. Mas esse sentimento de exclusão vai muito além da esperada conexão mais fraca devido ao pouco tempo de convivência, tempo que se conhecem. Esses personagens levam vidas comuns, têm trabalhos, famílias e problemas normais, e essa divergência de realidades começa a ser usada como desculpa para que o grupo de amigos antigos (ricos) persiga os novatos (pobres/classe trabalhadora/imigrantes). A metáfora passa a ficar mais clara.

Irônico do começo ao fim, Morte Morte Morte foi escrito pela geração z, para a geração z. Não só pelo contexto, gírias e personagens, mas também pela forma que subverte expectativas. Sua crítica a relacionamentos efêmeros, corridos, uso de drogas, saturação da crença em signos, redes sociais e dinâmicas de classe é no ponto certo. A única forma de definir seu humor é dizendo que, em certo momento, classe média alta é usada como insulto.

Com um enredo intrigante e cheio de segredos, piadas e um misterioso personagem chamado Max, o filme não se leva a sério e não tem medo de tocar em assuntos importantes, como raça, sexualidade e diferenças socioeconômicas de forma franca e sarcástica, simultaneamente.

A trilha sonora é ótima. Inclui músicas de estilos clássicos da atualidade, na sua maioria pop e rap, como Charli XCX, Shygirl, Tyga e até uma das atrizes do filme, Amandla Stenberg. As roupas dos personagens são facilmente diferenciáveis e caracterizantes de suas personalidades. Para acompanhar essa energia jovem, a fotografia simples e a iluminação colorida são evidentes.

Além disso, o elenco é extraordinário. Temos nomes muito conhecidos como Amandla Stenberg (Jogos Vorazes), Maria Bakalova (Borat – 2020) e Pete Davidson (Saturday Night Live), e também novatos como Chase Sui Wondes e Myha’la Herrold. Apesar disso, a performance que se destaca é a de Rachel Sennott como Alice, que entrega as falas mais engraçadas nos momentos mais sérios e te faz sorrir o tempo todo.

Reprodução: Morte Morte Morte

A proposta é arriscada e te deixa um pouco perdido no começo, mas persistir vale a pena. A A24, produtora do filme, acreditou em uma ideia que podia ser muito ruim ou muito boa. Felizmente, a aposta deu certo e a qualidade do filme vem de todos os aspectos: escrita, direção, atuação, trilha sonora e fotografia.

Por fim, Morte Morte Morte entrega o que promete e um pouco mais, suas metáforas sutis e o equilíbrio perfeito entre comédia e terror entretêm e assusta, tem comentários necessários e hilários, assim como um final que te deixa de queixo no chão.

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