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Os Maestros do Terror

Dois dos maiores clássicos do terror contemporâneo e suas trilhas impecáveis. Conheça a música de Hereditário e Midsommar

Como vimos na edição da “No Script!” de novembro, a trilha sonora é uma parte essencial do filme, tanto por criar a ambientação necessária de acordo com as exigências e os objetivos de cada cena, quanto para conduzir a narrativa conforme a proposta do diretor. De toda forma, constitui um dos aspectos imprescindíveis do mundo cinematográfico como o conhecemos, e alguns gêneros se destacam por explorar, com maior profundidade, as nuances e as possibilidades da trilha sonora, como é o caso do terror. 

Ao longo da história do cinema, diversos compositores se destacaram por criar trilhas marcantes que, sem sombra de dúvidas, engrandeceram as experiências cinematográficas de suas respectivas obras. Entre eles, destaco John Carpenter, responsável pelo emblemático tema principal da saga Halloween, nas quais as primeiras notas já provocam calafrios no espectador; e o grupo de rock progressivo Goblin, que compuseram as ricas e inquietantes trilhas de dois clássicos de terror italiano: Suspiria (1977) e Profondo Rosso (1975), ambos do diretor Dario Argento. Mais recentemente, e é especificamente sobre eles que pretendo falar, temos Colin Stetson e Bobby Krlic como responsáveis pelas trilhas de dois dos maiores nomes do terror contemporâneo: Hereditário e Midsommar, ambos dirigidos por Ari Aster e produzidos pela A24. 

Colin Stetson é saxofonista e multirremedista, e colabora regularmente com nomes como Arcade Fire, Bon Iver, Bell Orchestre e Ex Eye, além de acumular performances com gigantes da música como Tom Waits, Lou Reed, Laurie Anderson, David Gilmour, Godspeed You! Black Emperor, Badbadnotgood, Animal Collective e David Byrne. Stetson também trabalhou em diversas trilhas sonoras, sendo a de Hereditário uma das mais completas e imersivas. O compositor constrói densas, misteriosas e atmosféricas faixas para subitamente e brutalmente cortá-las, focando na utilização de aterrorizantes e inusitados efeitos no saxofone para se adequar à proposta do filme. Há momentos de pura idiossincrasia, como na faixa “Dreaming”, na qual o sax de Stetson é tão brutal que parece uma vaca mugindo, ou como fica perceptível em todos os sons percussivos que ele faz com o instrumento. O grande destaque da trilha vai para “Reborn”, que aparece como um clarão de imponência para que o espectador preste ainda mais atenção na tela, trazendo ainda mais vida para a experiência. Dessa forma, Stetson alinha sua paleta sonora com a estética sombria da fotografia e colabora para a construção da narrativa angustiante e retorcida da produção, em perfeita dissonância com as suas influências passadas.

O outro destaque, Bobby Krlic utiliza comumente o pseudônimo de The Haxan Cloak para lançar seus trabalhos autorais, e trabalhou com nomes como Björk, como co-produtor do disco Vulnicura, e Khalid, no disco Free Spirit. A trilha de Midsommar, no entanto, é bem diferente de seus trabalhos antecessores. Combinando as atmosferas sombrias com a temática mais ritualística e folclórica, Krlic é capaz de criar uma música que é ao mesmo tempo bonita como também desconfortável, e que condiz exatamente com a proposta de dispersão da obra. Destaco aqui a faixa “Fire Temple” como um dos momentos mais grandiosos e enervantes da composição sonora, que se adequa perfeitamente ao final angustiante.

As trilhas sonoras originais de Hereditário e Midsommar são, portanto, um prato cheio para quem gosta de música ambiente imersiva (para não dizer esquisita), além das atmosferas criadas por elas, que te levam para dentro do filme sem nem mesmo precisar assisti-los.

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