Projeto promove debates com a temática da Agroecologia, discutindo as principais questões envoltas no processo da transição agroecológica

Por: Maria Cecília Couto e João Victor Spinella

A agroecologia é uma área de conhecimento multidisciplinar que tem como estudo e objetivo a prática do cultivo de forma ecológica e sustentável, sem o uso de produtos químicos, com o intuito de reduzir ao máximo o impacto da agricultura no meio ambiente. Ela excede os limites da prática agrícola e se define também como movimento social e político. Nesse sentido, a agroecologia é uma ciência que integra outras ciências, assim como as experiências e os saberes populares dos agricultores familiares.

Essa prática é extremamente benéfica para os produtores, consumidores e para o meio ambiente, sendo de grande importância a propagação da mesma. A implantação individual da agroecologia por parte dos agricultores é fundamental, por isso é necessário que esse conhecimento atinja um público cada vez maior, para que exista uma conscientização sobre essa temática. É esse o objetivo do projeto de extensão da pós-graduação em Agroecologia da UFV, Café com Agroecologia, que consiste em debates sobre o cultivo de alimentos de forma agroecológica e sustentável. Na última quinta-feira de cada mês, a comissão, atualmente composta por 12 membros, (sendo eles mestrandos e professores da área), realiza uma roda de conversa aberta para todos os interessados e discute problemáticas relacionadas à agroecologia.

O Projeto

A proposta é que o debate se configure por uma troca de saberes entre pesquisadores e agricultores, teoria e prática, para que cada um contribua de alguma forma um com o outro por meio do compartilhamento de experiências, técnicas, conceitos e estudos. Os pesquisadores ainda se atentam sempre para a realidade do produtor local na hora de realizar suas pesquisas, prezando para que os resultados obtidos por meio das pesquisas seja condizente com a realidade local, servindo, dessa forma, como fonte de informação para a comunidade Viçosense.

Com objetivo de discutir a vertente alimentícia e de produção dos alimentos o projeto conta com colaboradores dos departamentos de Nutrição, Solos, Fitotecnia e Zootecnia, assim as discussões propostas se complementam. Além disso, agricultores locais são convidados a participar dos encontros para que haja um intercâmbio entre a vivência prática dessas pessoas e as pesquisas feitas na universidade. Segundo Elisângela Miguel, uma das 12 coordenadoras do projeto, todo saber popular é bem vindo, dessa forma é preciso ouvir as vivências dos agricultores, como eles aprenderam, como manejam sua propriedade, para trabalhar em cima dessa realidade.

Imagem de um encontro dos participantes do projeto

O início

O projeto surgiu de uma demanda identificada dentro do programa de pós-graduação, que era debater a agroecologia fora das salas de aula da universidade e de discutir outros temas relacionados a ela. Assim, o Café com Agroecologia foi registrado como um Projeto de Extensão da UFV e teve seu primeiro encontro em janeiro de 2015.

No início, suas reuniões aconteciam no Centro de Vivência e eram divulgadas somente entre aqueles que faziam parte do projeto. Com o tempo, mais pessoas começaram a se interessar e a divulgação dos encontros passou a acontecer na página do Café com Agroecologia no Facebook, nos e-mails do UFV em Rede e também via e-mails, convidando outros estudantes e professores da universidade e agricultores da região. A divulgação e a visibilidade do projeto também aumentaram quando ele foi levado ao Simpósio de Integração Acadêmica (SIA) e a outros eventos como o Congresso Nacional de Nutrição em Ouro Preto e o Congresso Brasileiro de Agroecologia. A visibilidade que o projeto teve nesses eventos fez com que um grupo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro viesse a Viçosa para conhecê-lo com o intuito de implementá-lo em seu campus.

Relação com a comunidade

Buscando desenvolver ações junto à comunidade, o projeto Café com Agroecologia já fez uma horta comunitária em conjunto com uma escola de Teixeiras. A ação teve como objetivo mostrar aos alunos da escola como era uma horta, como fazer uma e trabalhar a questão da compostagem. O resultado foi tão positivo que a coordenação do projeto pensa em expandir esse tipo de ação para outras escolas de Viçosa e região.

Além disso, os encontros do projeto propiciam discussões entre as pesquisas feitas por estudantes da UFV e seus resultados que são compartilhadas com agricultores por meio de relatos de experiências. Esses agricultores são pessoas que comercializam seus produtos em feiras como O Quintal Solidário, que acontece às quartas-feiras na sede da Seção Sindical dos Docentes da UFV (Aspuv); a Feira da Violeira, que acontece aos domingos na Comunidade Presbiteriana de Viçosa; a Feira de Sábado, que acontece próxima a Prefeitura Municipal e ao Fórum todos os sábados pela manhã; e a Feira noturna da Estaçãozinha, que acontece às quartas-feiras na Estação  Hervé Cordovil.

Segundo Adalgisa de Jesus, uma das fundadoras do projeto, pesquisadora em agroecologia e vinda da zona rural de Viçosa, o maior valor do diálogo que o projeto Café com Agroecologia possui é o de registro de conhecimento científico e popular em prol do mesmo objetivo. “Alguns agricultores que participaram são pais e mães de organizadores do café, isso tem uma valor muito grande pra eles. Se sentir valorizado é algo muito bom. Teses e dissertações são desenvolvidas em suas propriedades. Assim o conhecimento tradicional/empírico se une ao científico, no momento da pesquisa e da vivência com o  Café”, conta.

Em média, cada encontro mensal do Café com Agroecologia tem de 25 à 60 pessoas. Ao pensar na duração do projeto é possível estimar que cerca de 2 mil pessoas passaram por aquele espaço e tiveram discussões acerca da agroecologia e suas interfaces. Essas por sua vez envolvem bem- estar, vida em sociedade, economia, política, movimento feminista e conservação da natureza, questões muito latentes, atualmente, mas que ainda não são tão bem vista pelos olhos de uma elite agrária tradicional.

Alguns produtores optaram por abandonar o cultivo tradicional, que é baseado no uso de pesticidas e que não se atenta à sustentabilidade, assim decidiram passar pela transição agroecológica. O processo de transição consiste em uma revolução na forma de produção e no manejo e é feito por pessoas que foram conscientizadas a respeito dos benefícios da produção agroecológica, tanto para quem produz quanto para quem consome. Ações como as do Café com Agroecologia servem para a conscientização e para ampliação de uma nova visão acerca da produção e do consumo de alimentos. Após essa tomada de consciência as pessoas começam a passar o conhecimento adiante e a expandir gradativamente a agroecologia na região.