Projeto de extensão na UFV incentiva mulheres a seguirem a área da ciência e tecnologia.

Apesar de já estarmos no século XXI, no qual a ciência e a tecnologia são áreas de grande avanço, ainda há pouca participação das mulheres nesses campos de estudos, que em grande parte são dominados por homens. Com o objetivo de incentivar as mulheres a se envolverem mais nessas áreas, nasceu o projeto Químicas, Físicas e Engenheiras em Ação: Construindo Conhecimento.

O projeto surgiu através de uma chamada do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) que visa apoiar projetos que estimulem a formação de mulheres para as carreiras de ciências exatas, engenharias e computação no Brasil. Dessa forma, despertando o interesse de estudantes do sexo feminino da educação básica (a partir do 6º ano dos Ensinos Fundamental e Médio) e também da Educação Superior.

Segundo a CNPq, o projeto ainda tem como objetivo combater a evasão, que costuma ocorrer principalmente nos primeiros anos, de estudantes do sexo feminino dos cursos de graduação dessas áreas, assim como aproximar a Educação Básica do Ensino Superior.

Coordenado pela professora Mayura Marques Magalhães Rubinger, do departamento de Química da UFV (Universidade Federal de Viçosa), e a partir dos esforços de docentes dos grupos de Química, Engenharia Química, Física e também com a participação de pós graduandas, a princípio existiam dois grupos diferentes, mas que se uniram depois, surgindo assim o projeto.

Conversamos com a mestranda do projeto Alana Alves Rodrigues, que nos deu mais informações sobre o assunto.

Quais os principais objetivos do projeto?

Em linhas gerais podemos dizer que os principais objetivos do projeto são: despertar o interesse de alunas da educação básica por Ciência e Tecnologia para que futuramente possam se identificar com carreiras nessas áreas e também favorecer a continuidade dos estudos das estudantes que já estão matriculadas nos cursos de Química, Engenharia Química e Física.

As mulheres têm pouco interesse na ciência e tecnologia, ou não são incentivadas a participarem?

A verdade é que certamente as mulheres não são incentivadas a ingressar em carreiras científicas e também há pouco interesse ainda dessas mulheres por falta de representatividade.

O processo de escolarização das mulheres é muito tardio quando comparado ao processo de escolarização masculino. Durante muitos anos coube às mulheres responsabilidades domésticas e trabalhos pouco valorizados. Quase não há registros de mulheres com contribuições científicas no passado, até porque as mulheres não podiam estudar.

Os homens crescem ouvindo nas escolas, lendo em livros, assistindo em documentários nomes como Isaac Newton, Nikola Tesla, Ernest Rutherford, Niels Bohr, Gregor Mendel, Charles Darwin, entre tantos outros. Fotos desses cientistas aparecem em livros didáticos e seus feitos são sempre destacados, mas quantas mulheres você já viu nesses mesmos livros?

Muitas mulheres sequer pensam que podem cursar uma ciência básica como Química ou a Física ou também uma engenharia porque muitas vezes essas profissões são vistas como áreas masculinas. As mulheres que escolhem essas áreas ainda enfrentam vários desafios como o preconceito, assédio, descrédito, entre outros.

Como tem sido a adesão ao projeto?

O projeto teve início das atividades com as alunas do ensino básico no dia primeiro de março. Estamos atuando em cinco escolas de Viçosa e região. Ao todo, temos 15 bolsistas de iniciação júnior, bolsas que são destinadas a alunas da educação básica. Essas bolsistas foram selecionadas em suas escolas de acordo com seu interesse em participar do projeto e também com critérios estabelecidos por cada escola, como avaliação do histórico escolar, por exemplo.

Além disso, integram a equipe do projeto três professoras de Química, Mayura Rubinger, Regina Carvalho e Vânia Carneiro, duas professoras da Engenharia Química, Deusanilde Silva e Rita Souza, duas professoras da física, Andreza Subtil e Mariana Brandão, professora da biologia, Mara Tavares, duas alunas da pós-graduação, Alana Rodrigues e Vivian Araújo, cinco professores da Educação Básica e também três bolsistas da graduação sendo duas delas do curso de Química e uma do curso de Engenharia Química.

Teremos encontros semanais com as bolsistas ICJr para realização de várias atividades como aulas de reforço, produção de vídeos, exibição de filmes, aulas experimentais, entre muitas outras. Pensamos nas nossas atividades para mostrar a importância da ciência e também como aprendê-la pode ser divertido e interessante. Queremos divulgar nossa paixão pela ciência e mostrar para as garotas como podemos fazer um trabalho essencial para a sociedade.  

Como alguém que estiver lendo a matéria pode participar do projeto ou até mesmo ajudar?

Temos um blog em construção e uma página do facebook, aceitamos sugestões e notícias para publicarmos e também para divulgação das nossas páginas. Também aceitamos ajuda para produção de material e se algum profissional tiver interesse em realizar alguma atividade relacionada ao projeto, como oficinas e palestras, também podemos agendar dentro das nossas atividades.

MACHISMO NA CIÊNCIA

Existem muitos casos polêmicos envolvendo o machismo na ciência, entre tantos, um dos que mais se destaca é o da Rosalind Franklin.

Nascida em 1920, Rosalind, desde muito cedo, decidiu ser cientista, mesmo contrariando a vontade de seus pais. Fez sua graduação físico-química em Newham College. Tornou-se pesquisadora, estudou a estrutura física de materiais carbonizados usando raios-x.

Anos depois, juntou-se à equipe de biofísicos do King’s College Medical Research Council, onde aplicou seus estudos com a difração do raio-x para determinar a estrutura da molécula de DNA. Graças às suas observações e anotações, particularmente pela foto 51, fez com que  James Watson, Francis Crick e Maurice Wilkins confirmassem a dupla hélice no DNA. Rosalind não foi creditada, e eles acabaram ganhando prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1962.

Rosalind acabou falecendo em 1958, aos 37 anos decorrente de um câncer no ovário. Ela nunca chegou a saber que sua foto resultou na descoberta da dupla hélice.  Apesar de hoje já se ter o conhecimento da história, o prêmio Nobel não faz indicações póstumas. Até os dias atuais, quantidade de mulheres que já ganharam o prêmio Nobel é  de apenas 5%.

Para que histórias como essa não se repitam, é extremamente importante que seja incentivada a participação da mulher na ciência e tecnologia, desde cedo. Projetos como esse são muito importantes e com certeza ajudarão a mudar esse cenário, onde os homens são maioria.