Opinião | A arbitragem é um problema de todos

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As polêmicas de arbitragem são sintomas de um descaso que ocorre no futebol nacional

Um clube tem sido destaque neste último mês quando o assunto é polêmica de arbitragem. Afinal, o torcedor do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense tem gastado toda a sua voz e esgotado os caracteres das redes sociais em esbravejos contra recentes decisões prejudiciais à equipe sulista.

Do polêmico “não-pênalti” contra o Godoy Cruz pela Copa Sul-Americana, ao já assumido erro de Matheus Candançan no confronto da equipe gremista contra o CSA – cujo resultado selou a eliminação do time gaúcho na Copa do Brasil – não faltam casos para deixar a torcida do Grêmio em desespero.

Mas não são apenas os gremistas que sentem o sangue pulsar mais rápido quando ouvem o nome de algum árbitro. Para além do clubismo que, por vezes, invade as discussões mais inflamadas, muitos destes torcedores têm, de fato, razão em reclamar. Apenas neste Brasileirão 2025, a CBF já admitiu erros de arbitragem em três partidas: Corinthians x Internacional, Internacional x Cruzeiro e Palmeiras x Sport.

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O futebol brasileiro vive uma crise técnica na arbitragem, mas é no mínimo curiosa a falta de uma ação coordenada entre os maiores clubes do país na cobrança por melhorias. Isso não afeta apenas o Grêmio, mas a todos que tiverem o azar suficiente em serem os escolhidos da vez.

Quem administra

Mas a quem reclamar? A entidade que administra a arbitragem em todas as divisões das competições nacionais de futebol do Brasil é a CBF. O braço da instituição que se encarrega de comandar a arbitragem no Brasil se trata da Comissão de Arbitragem.

Reformulada ainda em fevereiro, a comissão enfrenta desafios pela frente, como o recente corte de recursos para o treinamento de árbitros. Aliás, a CBF vive momento de turbulência nos bastidores, com regalias dos diretores e envolvimento político externo sendo expostos pela imprensa. O cenário não é dos melhores.

A recente destituição do cargo de presidente de Ednaldo Rodrigues e a nomeação de Samir Xaud neste domingo (25) adicionam mais tempero em um prato que já estava ardido. Há quem fale que sai o seis e entra o meia dúzia.

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Profissionalização da arbitragem

Claramente, esta conjuntura não favorece uma melhoria na arbitragem. Mesmo com a promessa de Ednaldo no início do ano de buscar a profissionalização da categoria, a crise de credibilidade da instituição não dá garantias de que as promessas realmente se concretizarão.

Hoje, mesmo a profissão sendo legalizada, muitos árbitros ainda carecem de uma fonte de renda alternativa. Ao menos, no Senado Federal tramita a PL 864/2019 desde 2019, que visa estabelecer um vínculo empregatício entre árbitros e as entidades pelas quais atuam.

Este assunto nunca esteve tão em alta no futebol brasileiro. Após a chegada do VAR e da adaptação à novas tecnologias nas transmissões e na atuação dos juízes nos jogos recentes, a profissionalização vem ganhando espaço na opinião pública. Técnicos de grandes clubes, como Renato Paiva, do Botafogo, e Cuca, do Atlético Mineiro, se pronunciaram recentemente a favor da profissionalização dos árbitros.

Mesmo que ainda exista quem enxergue problemas apenas quando o próprio time é prejudicado, as discussões acerca das decisões dos árbitros no Brasil também vêm alterando a forma como a preparação da arbitragem é feita.

Exemplo recente é o afastamento dos árbitros envolvidos em Sport 1 x 2 Palmeiras e Internacional 3 x 0 Cruzeiro. Segundo a Comissão de Arbitragem da CBF em comunicado, a decisão “se baseou também no parecer do Comitê Consultivo de Especialistas Internacionais (CCEI), que constatou equívocos cometidos pelos profissionais nos jogos”.

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Em sequência, a organização anunciou uma semana de preparação teórica e prática para todos os árbitros e assistentes da Série A da liga nacional. De acordo com Rodrigo Cintra, coordenador-geral da Comissão de Arbitragem, a iniciativa “é um trabalho piloto também para a profissionalização que pretendemos fazer em, no máximo, 18 meses.”

Tal medida seria essencial para trazer estabilidade financeira para quem planeja seguir a profissão de árbitro de futebol, além de possibilitar que profissionais de melhor qualidade estejam à frente dos principais jogos do país. Desta forma, o Brasil poderia acompanhar a tendência dos países com as ligas mais fortes do mundo e dar mais um passo para o crescimento do futebol nacional.

Nas cinco principais ligas europeias (inglesa, italiana, espanhola, alemã e francesa), os árbitros são profissionalizados e recebem salário fixo. No caso da Inglaterra, o país foi o primeiro do mundo a profissionalizar seus árbitros, com a criação da PGMOL (Professional Game Match Officials Board) em 2001.

Mas e agora?

Pouco mais de um mês após a semana de preparação dos árbitros, os erros ocorridos nos jogos do Grêmio impulsionaram a equipe gaúcha a se reunir com representantes da arbitragem da CBF.

O presidente do clube, Alberto Guerra, e Luiz Felipe Scolari, coordenador de futebol, levaram à entidade uma lista com 8 reclamações em partidas envolvendo o Grêmio. O resultado? Candançan, árbitro da partida contra CSA, foi afastado por tempo indeterminado.  

Então, em partida deste domingo (25) uma nova controvérsia envolvendo o time do sul tomou conta dos debates das redes sociais. Desta vez, o clube gaúcho foi, supostamente, favorecido em um pênalti que selou a vitória em casa, contra o Bahia.

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Após a partida, o técnico do Imortal, Mano Menezes, desconversou quando questionado sobre o possível erro no apito: “A arbitragem, tenho falado pouco.” (sic). Enquanto isso, do outro lado do confronto, Rogério Ceni classificou o acontecimento como “um erro crucial, determinante”.

Os caminhos para a melhora da arbitragem no Brasil passam também pelos três poderes, mas o quanto estamos dispostos a nos unirmos em prol de um avanço para todos? A conveniência de só reclamar quando se é favorecido conforta, porém não contribui para que uma ação conjunta seja planejada. Já passou da hora dos discursos confluírem para que o que já afetou o Grêmio, não afete a mais ninguém.