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Como as massas foram afastadas da maior paixão nacional por meio do aumento dos preços
O futebol, enraizado na cultura popular brasileira, vive um momento de distanciamento de seu povo, devido aos altos valores de ingressos, produtos e assinaturas de pay-per-view. Essa realidade tem provocadoa desmobilização dos torcedores, e se reflete em estádios vazios e na seletividade daqueles que podem acompanhar.
Segundo dados do Agencia Pública, entre 2003 e 2013 o preço médio dos ingressos no Brasil aumentou cerca de 300%, passando de R$ 9,50 para R$ 38,00, superando assim, o aumento do salário mínimo (183%) e a inflação (73%), no mesmo período. O dado revela o processo de exclusão popular promovido por quem administra o futebol.
Um exemplo recente é a semifinal do Campeonato Paulista 2025, entre Palmeiras x São Paulo, que teve preços de ingresso variando de R$ 220 a R$ 480. Estes valores para a realidade de muitos brasileiros representam uma parcela considerável da renda mensal. A consequência? Mais um grande jogo com cadeiras vazias no estádio.
Outro fator importante para esse cenário foi a realização da Copa do Mundo no Brasil em 2014. Embora os benefícios do evento sejam evidentes e não possam ser ignorados, ele marcou o início da chamada “arenização” dos estádios — reformas caras, custeadas pelo torcedor, que ao mesmo tempo afastam a proximidade com o clube do coração.
A mudança no perfil do comportamento de muitas torcidas também passa por isso. Atualmente, é comum observar crises de identidade entre as torcidas brasileiras, muito por causa da ruptura na pluralidade dos torcedores. A presença de pessoas com diferentes origens, crenças e realidades sociais sempre foi um dos elementos que tornava o ambiente dos estádios único. Com a elitização do acesso, o futebol perde não apenas em público, mas em representatividade e na união por um bem comum: o amor por um time.

Outro aspecto relevante dessa discussão é como este tema se reflete na Seleção Brasileira. A equipe pentacampeã mundial passa por mais um momento conturbado em sua riquíssima história, e não empolga no ciclo preparatório para a Copa do Mundo de 2026. O fraco desempenho esportivo e a crise política na CBF e à política de preços elevados, tem contribuído para um sentimento generalizado de apatia por parte da população.
Nos seis jogos em casa válidos pelas eliminatórias da copa, o valor médio para assistir a partida foi de R$ 350, fora da realidade econômica da maioria dos brasileiros. O resultado são estádios que não lotam, e uma seleção composta majoritariamente por atletas que atuam no exterior, o que dificulta a criação de vínculos com o torcedor local.
É importante destacar que esse cenário não é exclusivo do Brasil. Nossos vizinhos argentinos, atuais campeões do mundo, sofrem com o mesmo problema de valores abusivos, entretanto, o bom momento esportivo ajuda a amenizar o descontentamento popular.
Outro exemplo é o Campeonato Inglês, que no começo do século passou pelo que estamos vivenciando agora, com o afastamento do torcedor popular em função da elitização dos estádios.
O momento é delicado e, infelizmente, não há sinais claros de reversão. O futebol caminha para uma lógica em que a busca por lucro se sobrepõe ao sentimento do torcedor. E, mais uma vez, no Brasil, quem paga a conta é a parcela mais pobre da população.