Reconhecido como um clássico do cinema, o filme Laranja Mecânica emprega elementos dadaístas para construir o sentido de sua trama
Dirigido pelo cineasta norte-americano Stanley Kubrick, Laranja Mecânica se destaca em meio a tantos outros filmes da década de 70.
A obra estreou no ano de 1971, em Nova York, e até hoje ocupa um espaço importante como um filme distópico atemporal, que aborda questões políticas e sociais além de repercutir debates sobre questões morais individuais.
Laranja Mecânica narra a história ‘ultraviolenta’ de Alex DeLarge, jovem delinquente que lidera uma gangue tão delinquente quanto.
Juntos, Alex e seus comparsas vagueiam pelas ruas da distópica e excêntrica Londres, cometendo crimes bárbaros contra qualquer indivíduo que cruze o caminho. Contudo, o caráter maligno do protagonista não se restringe somente aos desconhecidos, e em determinado momento, Alex agride seus comparsas.
Quando a gangue planeja outro ataque, os comparsas agredidos por Alex se vingam, entregando-o para as autoridades. A partir disso, Alex é submetido a um tratamento de reabilitação violento, que imobiliza o detento para assistir cenas explícitas e cruéis enquanto está sob efeito de substâncias ilícitas.
Devido ao trauma acumulado, ao final do tratamento Alex torna-se extremamente vulnerável, e no decorrer da trama, encontra com algumas de suas vítimas, que agora invertem os papéis e praticam agressões vingativas contra Alex.
Vítima de agressões físicas e psicológicas, o protagonista tenta se suicidar e a mídia se comove com esse fato. Assim, as autoridades passam a ser culpabilizadas pelo quadro psiquiátrico de Alex.
No fim, Alex recebe um suborno – e flores – para apoiar o Ministro e então protegê-lo das represálias da sociedade.

Laranja Mecânica é mais uma das produções geniais de Kubrick, também diretor de sucessos como O Iluminado, Lolita, 2001 – Uma Odisseia no Espaço e Nascido para Matar.
É um filme que permite que o telespectador experiencie o absurdo de um jeito um tanto quanto vulgar. A crítica por trás da normalização da crueldade e selvageria do ser humano nessa obra é um perfeito exemplo do emprego do dadaísmo no cinema.
O dadaísmo é um dos movimentos artísticos das vanguardas europeias. Surgiu por volta do século XX e tem como uma de suas principais características o caráter irônico.
A relação entre o filme Laranja Mecânica e o movimento dadaísta está presente no ilógico, no caos, no protesto e no ceticismo que é mascarado pela crítica de Kubrick.
Considerando o fato de ser um filme lançado nos anos 70, é possível apontar como os cenários do filme são produzidos por um ponto de vista futurista, com o objetivo de reforçar o caráter distópico da obra através do emprego de elementos excêntricos. Mas, por outro lado, não há nada mais ilógico do que pensar em tamanho desenvolvimento tecnológico em proporção com tamanho retrocesso social.
E é através dessas grandes contradições que Kubrick produz o absurdo em Laranja Mecânica.

O filme retrata o mau contra o bem, e, então, o mau contra o mau. Nessa produção, qualquer relação de valor ético ou moral é rompida. E, para além do anti-racional, é também uma grande crítica social e política.
É fato que, se não fosse pela caracterização excêntrica das personagens, cenografia extremamente exagerada e violência recreativa, o filme poderia facilmente ser confundido com um filme policial qualquer.
Afinal, corrupção e violência não são fenômenos pouco recorrentes, mas, ao mesmo tempo, isso ninguém quer admitir.
O que Laranja Mecânica tem, em meio a tanto caos, é a precisão em cada pincelada que compõe esse grande retrato da sociedade. Aparentando ser absurdo ou não, é real, e o filme não tenta entreter o espectador, mas horrorizar.
O dadaísmo surgiu no contexto da Primeira Guerra Mundial, como forma de denúncia e aversão. E Laranja Mecânica não é tão diferente. Embora o filme seja um horrorshow – e não no sentido Nadsat da palavra, a mensagem na verdade é uma denúncia.