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No Tabloids -Los Angeles, CA - 11/1/2014 - Press Conference for Dumb and Dumber To at the Four Seasons Los Angeles. -PICTURED: Jim Carrey -PHOTO by: Munawar Hosain/startraksphoto.com -MUv_151336 Editorial - Rights Managed Image - Please contact www.startraksphoto.com for licensing fee Startraks Photo New York, NY For licensing please call 212-414-9464 or email sales@startraksphoto.com

Perfil| Jim Carrey

Do brilhantismo humorístico à luta contra a depressão. A liberdade que se extrai do humor é a mesma que colore nossos quadros brancos

Jim Eugene Carrey nasceu no dia 17 de janeiro de 1962, em uma cidade pequena do Canadá, Newmarket. Extrovertido desde criança, o futuro ícone de comédia de Hollywood organizava pequenos shows para seus pais ou algum convidado que queria chamar atenção. Apesar do nítido talento artístico, Carrey foi obrigado a largar tal vocação para trabalhar em uma fábrica e ajudar a família que estava passando por uma crise financeira.

No entanto, quando as coisas melhoraram, Jim voltou à todo vapor ao seu sonho e tentou a sorte em clubes de comédia com imitações de atores famosos. Em uma apresentação, chamou a atenção do humorista Rodney Dangerfield pelo seu humor diferente do comum, o que deu ao pequeno comediante a chance de trilhar uma carreira na “cidade dos sonhos”, Los Angeles.

Sua estreia nas telonas do cinema como protagonista foi no filme de comédia e esporte Bob e Jack – Dois pés-frios numa gelada em 83. Porém o grande sucesso do ator hollywoodiano veio quando interpretou o detetive de pets lá em 94 na comédia Ace Aventura: Um Detetive Diferente. Apesar das críticas intensas ao filme, Ace ganhou todo o público com a pitada de humor físico de Carrey. A partir dali, os filmes de comédia só precisavam de um fator para fazerem sucesso: ter Jim Carrey no elenco.

Os anos noventa ficaram totalmente marcados pela genialidade humorística de Carrey. Em seu ano de estrelato, 1994, protagonizou os longas O Máskara e Debi & Lóide – Dois Idiotas em Apuros e conseguiu o papel do vilão Charada em Batman Eternamente. Depois, claro, outros personagens também se destacaram, como Fletcher Reede de O Mentiroso (1997), Chip Douglas de O Pentelho (1996) e Grinch de O Grinch (2000).

Jim Carrey se tornou o primeiro ator de Hollywood a receber um salário de U$ 20 milhões e, após tanto sucesso na comédia, decidiu se aventurar no drama. Com o filme O Show de Truman (1998), além de ter mostrado ao público uma nova faceta que impressiona até hoje, ganhou o Globo de Ouro de Melhor Ator em Filme de Drama de 1999.

Reprodução: O Show de Truman (1998)

Entretanto, mesmo marcando uma década inteira e a história de Hollywood por suas exímias atuações, seja no drama ou na comédia, Carrey ainda não se sentia satisfeito. Por quê? Por que o homem que se esforçou tanto pra nos fazer rir em momentos ruins, agraciado por todos os públicos, ainda não se sentia inteiro? O que, para ele, poderia ajudá-lo a chegar nesse patamar? Bom, talvez, a resposta para essas perguntas seja ser admirado por quem ele de fato é, não o personagem criado desde os clubes de comédia e que o levou ao sucesso. Para Jim, em nenhum momento nos holofotes da maior indústria cinematográfica ele mostrou realmente sua essência.

No mesmo ano em que conquistou seu Globo de Ouro, Jim Carrey estava nos estúdios de gravação de seu, até então, novo filme O Mundo de Andy. Juntando os dois gêneros que tanto amava atuar, o longa contava a história de uma de suas maiores inspirações como ator de comédia, Andy Kaufman. Por todas as circunstâncias, Carrey decidiu viver dentro e fora das gravações como o próprio protagonista – o famoso method acting – o que gerou inúmeros atritos entre ele, a direção, o elenco do filme e até com si próprio, com sua própria personalidade.

As filmagens do longa foram o pontapé para os questionamentos sobre sua essência, como ele se moldou para ser um dos maiores comediantes de Hollywood, seja no próprio filme, seja na sua vida real. De acordo com o próprio Jim Carrey, interpretar Andy o fez esquecer como ele próprio agia, mostrou ao humorista como a sua realidade lembrava seu papel em Show de Truman: um produto midiático apenas para entreter os espectadores.

Reprodução: O mundo de Andy (1999)

Após as gravações e um término de relacionamento, Carrey viu sua vida pessoal no fundo do poço; foi quando protagonizou o filme Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004), dirigido por Michel Gondry. No dia em que o conheceu, viu o próprio diretor ficar feliz pela sua condição, já que isso melhoraria o papel do personagem dentro do filme. Compreensivelmente, esse acúmulo de circunstâncias o fizeram repensar sua carreira e, então, aos poucos, desaparecer do universo cinematográfico; foram por volta de 5 filmes até 2010, em comparação com a chuva de lançamentos de antes.

Depois disso, algumas aparições especiais raras começaram a chamar atenção novamente, como em Kick-Ass 2 (2013). No entanto, Jim Carrey tomou novamente os holofotes mesmo em 2015, dessa vez pelo suicídio de Cathriona White, sua namorada. Mark Burton, ex-marido de Cathriona, abriu um processo contra o comediante, alegando que ele havia comprado os remédios ilegais usados por ela no suicídio e que ele seria um dos motivos, já que, na carta deixada pela vítima, ela dizia que era desrespeitada e xingada constantemente pelo seu namorado.

Jim rebateu todas essas acusações argumentando que Burton apenas queria extorqui-lo e já o ameaçou em divulgar informações falsas para acabar com sua imagem. Disse também que não iria tolerar essa tentativa insensível de explorar ele e a mulher que amava. O julgamento terminou no ano seguinte com as acusações sendo retiradas por Burton.

Mas constantes falas divulgadas pela imprensa deu a Burton o que ele queria: holofotes. Entretanto, cada comentário sobre Cathriona impedia Jim de sair de seu mundo incolor. Como alguém que sempre exalou diversão, felicidade, brincadeiras, amor, humor e, acima de tudo, seu brilhantismo em tudo que fez, chegou à depressão? Se torna um tanto quanto irônico, não? Um ser tão libertador preso em seu próprio limbo condenado pelos seus próprios pensamentos.

Não. Jim Eugene Carrey nasceu para fazer todos darem gargalhadas e se divertirem com seu humor físico e tão livre. Burton, em sua busca pelos holofotes apenas os direcionou novamente a quem não tinha culpa ou queria atenção. O que Jim Carrey queria era sua namorada de volta.

Jim Carrey no funeral de Cathriona
Reprodução: Internet

Em uma entrevista para CBS News, ainda em 2004, Carrey disse:

Há picos e vales, mas eles são sempre cavados e suavizados para que você sinta um permanente desespero e fique sem respostas, mesmo que viva bem. Você consegue sorrir quando está no trabalho, mas continua em um baixo nível de aflição

Com tantos sucessos incríveis, Jim Carrey ultrapassa seus próprios padrões em I Needed Color, sua obra prima. O documentário dirigido por um dos produtores de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança, David Bushell, conta de que maneira a arte, suas próprias pinturas e a cor conseguiu libertá-lo da depressão. O nome para o projeto de apenas 6 minutos veio em um dia cinzento em seu apartamento em Nova Iorque, onde ele percebeu que sua vida precisava de cores.

O curta documental expõe o caminho que Jim percorreu para sair de seu limbo incolor e para chegar na libertação colorida. Ele comenta que desde criança adorava desenhar e escrever poesias. “Eu não era o tipo de criança que mandavam para o quarto como punição porque meu quarto era o paraíso para mim. Meu isolamento é bem vindo.” diz ele.

Além disso, as pinturas foram um meio de curar seu ‘coração partido’ e estresse, após todo processo contra Mark Burton. Em todo documentário, Carrey reflete sobre a natureza do amor, o “flutuar” deste sentimento, fala sobre a espiritualidade, suas pinturas multirraciais de Jesus Cristo e, no minuto final, disserta sobre a razão e o sentido de um pintor, ator e escultor: o amor

Nós queremos nos mostrar e ser aceitos. Eu amo estar vivo e a arte é uma evidência disso.

Mini documentário “I Needed Color”

Após 3 anos da produção do curta, Jim voltou aos cinemas como Dr. Ivo Robotnik em Sonic – O Filme em 2020, e depois retorna para Sonic 2 – O Filme em 2022. Assim como os papéis de Carrey dos anos 90, esse não seria diferente: diversão na certa. Jim Carrey nunca muda, por mais momentos adversos e dificuldades, sua persona existindo ou não, o ator de comédia mais icônico dos cinemas sempre terá a mesma essência. A essência que sempre procurou.

Quando olhamos para evolução de Carrey, percebemos que ele não era apenas o divertido e engraçado Lóide, nem o mentiroso arrependido Fletcher ou muito menos o rabugento verde Grinch. Jim Carrey não é apenas um personagem hollywoodiano criado nos clubes de comédia. Ele é a liberdade que se extrai do humor. É a cor que liberta. É o gênio humorístico que brilha toda vez que usa suas técnicas de comédia.

Até mesmo aqueles que nasceram para nos alegrar, para nos ajudar a sair de nossos limbos com grandes gargalhadas, podem estar na mesma escuridão. Como eles, nós também podemos deixar nossos dias mais coloridos e impedir que nossa insatisfação continue, e foi o que Jim Eugene Carrey fez.

Um dos atores mais icônicos da história de Hollywood, que levou o público das risadas às lágrimas, mesmo lutando contra seus próprios demônios e adversidades da vida, impediu essa obscuridade e voltou a deixar seu quadro totalmente colorido.

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