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“Meu melhor amigo negro”. Por que pessoas pretas não são protagonistas?

“Eu não sou racista, tenho até amigos que são negros!” A desculpa usada pelo seu vizinho racista e pela indústria cinematográfica

Não é surpresa para ninguém que o universo cinematográfico nada mais é do que uma extensão do nosso universo real e, dessa forma, apresenta em suas histórias problemas e preconceitos tão reais quanto.

Você já assistiu a um filme e não conseguiu se relacionar com a história, talvez porque nenhum dos personagens te representasse? Acredite, meninos e meninas negras sentiram isso por muitos e muitos anos! A indústria cinematográfica é preconceituosa e durante um tempo muito longo não havia personagens pretos em suas histórias, a narrativa negra não existia e, quando apareciam, esses personagens na verdade eram reproduzidos por brancos pintados de negros (a famosa Blackface) e expostos a situações de extremo ridículo.

Com o passar das décadas, o negro começou a fazer parte cada vez maior de um público que interessava muito o cinema: o público comercial e, por isso, como consumidores, eram importantes, afinal, consumidor é igual a dinheiro. Assim, não por um princípio meramente moral, mas por uma estratégia de marketing era vantajoso que o negro se visse nas telonas ou nas telinhas.

Mas como representar esse povo que por tanto tempo não se via, ou apenas se via exposto ao ridículo? Daríamos a eles um papel digno agora? Colocaríamos eles lado a lado ao branco? Não, isso poderia causar uma ideia de igualdade e eles não eram iguais. Eram? A solução era clara, dê ao negro o papel insignificante; represente-o como coadjuvante; como aquele personagem que passa ao fundo; como aquele que observa tudo em silêncio, não tem voz; como o melhor amigo. Pronto. Agora havia personagens negros, mas a narrativa negra continuava e continua (na maioria dos filmes e séries) inexistente.

Quantos personagens negros você se lembra de ter visto nas obras que consome? Eles tinham fala? Eles tinham opiniões diferentes da de seus “amigos brancos”? Se você viu muitas criações que não tem foco em minorias, essa resposta provavelmente é negativa. “Meu melhor amigo negro” nada mais é do que uma extensão do personagem branco, ele concorda com tudo que o outro fala, ele não tem personalidade ou história, ele só existe para vangloriar o protagonista e até mesmo para dar a vida por ele.

Na verdade, o preto só está ali para preencher o quesito “diversidade no cast”, tão moralmente discutido nos dias atuais. Quando não é negro (o que é predominante) esse amigo também pode ser representado por outra minoria, ele pode ser asiático, LGBT+, deficiente ou quem sabe, tudo isso em um só personagem. Assim, se economiza cast. Não faz mal, o importante é que ele não tenha destaque.

Isso pode ser facilmente observado em personagens como Dionne, de As Patricinhas de Bervely Hills, que só existe e respira por Cher Horowitz e que mesmo tendo um estilo tão característico quanto o da amiga (e por que não dizer “maior e melhor”), continua não sendo considerada um ícone fashion.

Não vamos nos esquecer também de Bonnie Bennett que deu a vida por praticamente todos os personagens de The Vampire Diaries, em especial por Elena; sofreu mais do que qualquer ser já existente e inexistente, mas mesmo assim não é considerada uma amiga tão boa quanto Caroline Forbes.

Ou quem sabe, devamos falar de Grover Underwood que era branco e ruivo nos livros de Percy Jackson e os Olimpianos (assim como nossa querida Bonnie que era, também, ruiva nos livros), mas é retratado na adaptação cinematográfica como o melhor amigo “engraçadão” e negro de Percy Jackson.

Não são poucos os personagens secundários e “amigáveis” que se tornam negros nas adaptações cinematográficas de suas obras, isso acontece com frequência. Mas, num certo filme de bruxinhos, uma verdadeira mágica acontece! Hermione Granger que, apesar de ser “disfarçadamente” descrita como negra nos livros da famosa saga de Harry Potter, se torna uma protagonista muito inteligente, de opinião própria e, veja só, de pele branca. Que curioso, não é mesmo?

A pergunta que não se cala é até quando os negros enxergarão a si mesmo nas telonas e telinhas como simples jogadas de marketing? Por esse, e vários outros motivos, é importante que consumamos produções de diretores, artistas, roteiristas e qualquer outro ramo, negros, chineses, coreanos, indianos, indígenas e das mais diferentes etnias e minorias (isso inclui mulheres, LGBT+ e até mesmo produções independentes e de baixo orçamento). Toda narrativa é importante, não apenas no universo real, mas também na representação deste.

Referências: David Oyewolo: Não Aceito Ser o Melhor Amigo Negro nos Filmes

4 Estereótipos Racistas que Hollywood Precisa Parar de Usar

Todos os personagens negros em filmes de brancos

Hermione é Negra: Isto Pode ser Uma Pergunta ou uma Afirmação, Dependendo de quem Lê

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