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Jornada do herói e sua presença da mitologia no cinema

A forma como um fenômeno da psique humana está por trás de roteiros de sucesso

 

Quais são a semelhança que grandes clássicos do cinema e filmes da sessão da tarde possuem? Muitos deles traziam consigo a “Jornada do Herói”, uma estrutura de roteiro que vai além da ser um esqueleto para histórias, se aprofundando na antropologia e na psique humana.

Joseph Campbell foi o antropólogo criador do conceito de “Monomito” que, ao ser adaptado pelos roteiristas, ganhou o nome de “Jornada do herói”. Ao estudar sobre inúmeras mitologias, ele reparou em semelhanças entre elas mesmo com uma separação de tempo e espaço, então em sua tese ele defendeu que razão para tais semelhanças se deve ao fato de que muitos temas e símbolos mitológicos emergem de uma área da mente chamada inconsciente coletivo. Isto foi estabelecido por Joseph Campbell no livro O Herói de Mil Faces, onde ele cita exemplo de mitos que seguem a estrutura “A Aventura do Herói” como as histórias de Prometeu, Osíris, Buda e Jesus Cristo, que segue o paradigma quase exatamente; outro seria a Odisseia com repetições frequentes dessa estrutura.

Por mais que Campbell seja o pesquisador que formulou a tese, há uma grande influência de pesquisas do psicanalista e psiquiatra Carl Jung, desenvolvedor de conceitos como inconsciência coletiva e arquétipos, termos usados pelo antropólogo em seu livro.

Agora, qual a influência da pesquisa no cinema em si? É muito maior que muitos podem pensar. O mais claro exemplo da Jornada do Herói em roteiros é Star Wars, admitido por George Lucas ter utilizado o conceito de Joseph Campbell para criar a narrativa não só de Luke Skywalker na primeira trilogia como também a de Anakin Skywalker nas prequels. Outros exemplos são Matrix (1999), Senhor dos Anéis (2001), Gladiador (2000), Pequena Sereia (1989), Poderoso Chefão (1972), entre outros.

A estrutura da jornada do herói se popularizou com Christopher Vogler, roteirista que escreveu A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Roteiristas, um memorando escrito para os estúdios onde utiliza das teorias de Campbell – que anos depois seriam usados em Mulan (1998) e Pequena Sereia citado acima.

O que leva a identificação e ao sucesso da utilização dessa estrutura de roteiro, segundo o criador, é a forma como a psique humana associa essa história à vida real: desde a parte onde o personagem tem a sua rotina quebrada por um “chamado a aventura”, até a parte que ele a concluía e carrega a experiência de toda essa jornada. Algo que pode ser levado para o nosso cotidiano como a quebra da rotina é se mudar de uma cidade, onde você sai do seu mundo comum e é levado ao desafio de se adaptar e vencer os obstáculos impostos pela mundo novo, no final levando a experiência tanto boa como ruim para a vida.

Ao ouvir falar e estudar sobre a Jornada do Herói, eu não conseguia compreender como que criar um roteiro baseado em uma estrutura pronta podia levar à criação de coisas novas e boas. Porém, com o tempo, fui entendendo que você não deve pegar o alicerce e apenas completar tópicos, mas sim deixar aquilo na última camada e permitir que a história se leve sobre a forma. No final como Campbell observou:

Os símbolos da mitologia não são fabricados; eles não podem ser ordenados, inventados ou permanentemente suprimidos. São produções espontâneas da psique.” (O herói com mil faces, Joseph Campbell)

Se você ler mais sobre o “Monomito” e passar a reparar nos filmes que vê, verá como tal conceito estará sempre presente mesmo que muito levemente. Até um dia que você se tornará um cinéfilo chato capaz de ver ele em tudo.

 

Referências:

Podcast B9 – Caixa de Histórias #184

Wikipedia

Pensar Contemporâneo

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