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Crítica: Dancer In The Dark (Dançando no escuro)

Uma história injusta contada com uma originalidade concentrada e cantada por uma das maiores vozes de sua geração

Dancer In The Dark é um filme… diferente. É um filme que, obviamente, tem suas qualidades que o tornam apaixonante, mas são as suas características mais controversas que o tornam completo e intrigante.

Pra começar, é um filme que é difícil de assistir, tanto em relação ao assunto quanto em relação à técnica. Foi filmado usando câmeras digitais e portáteis com close-ups que frequentemente aumentam e diminuem o zoom. Esse estilo provavelmente foi escolhido para criar uma ambientação mais “rústica” e dar um foco maior aos personagens, mas pode ser um detalhe que incomode alguns telespectadores.

De qualquer forma, o resultado da escolha por um estilo recluso e desorientador faz com que Bjork se torne o foco principal de praticamente todas as tomadas. E acaba fazendo muito sentido à medida que a cegueira da personagem se acentua e o que era um aspecto limitador do estilo das câmeras termina por complementar a narrativa de certa forma. A única vez em que o filme abandona esse estilo é durante as incríveis e belas sequências musicais, que criam uma fantasia escapista para os problemas de Selma. Os números são tão vivos que os ambientes se tornam parte das performances, com clara influência de música concreta, e se torna um fator de espontaneidade das cenas de uma forma que contribui para a sinceridade do filme. Ao assistir não é difícil se esquecer que os atores se reuniram para ensaiar as coreografias, tudo parece tão naturalmente espontâneo.

Isso contribui muito para a autenticidade do personagem de Bjork, em uma atuação que a consolida como uma das artistas mais completas de sua geração. Ela é o poder bruto que traz todas as emoções do filme à tona. O impacto e a entrega, além do brilhante e inconfundível timbre da islandesa, protagonizam algumas cenas realmente belas e tocantes. Como por exemplo a cena nos trilhos do trem com a música “I’ve Seen It All”, em dueto com Peter Stormare, cuja voz mais calma e tenra contrasta perfeitamente com a visceralidade e explosão de Bjork. Outra cena muito impactante e, possivelmente a melhor do filme, é a sequência musical de “My Favourite Things” em que Selma chora na cela ao tentar cantar. É impossível assistir sem rasgar e chorar junto.

Quanto ao enredo, é absolutamente arrepiante. A história é contada de uma forma que você se encontra atraído intensamente e focado tão profundamente ao ponto de relevar algumas pequenas falhas. Ela começa de uma forma e muda de foco quando um acontecimento importante da trama surge de repente e de forma horripilante. É uma história baseada em uma realidade horrível e implacável e sobre como um sistema penal injusto que destrói impiedosamente inocentes todos os dias. Sobre como pessoas boas com boas intenções são arruinadas por sua crueldade inabalável. Dancer in the Dark é um musical que não tem um final feliz, e isso por si só já é uma linha audaciosa e um motivo para você assistir a esse filme.

 

Nota:

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