O que fez com que esse K-drama se tornasse um fenômeno mundial
“Se você não conseguir, apenas volte. Estaremos sempre aqui por você” – Inverno
Se a Vida Te Der Tangerinas é um fenômeno mundial e com todos seus episódios no ar se tornou a série em língua não inglesa mais assistida da Netflix, demonstrando que boas histórias ultrapassam as fronteiras linguísticas e culturais. Em uma entrevista Park Bo-Gum nos diz que “histórias humanas conectam as pessoas com todas as partes do mundo” e a série é a prova disso.
Dividida em quatro blocos compostos de quatro episódios, cada um representando uma estação, a série conta a história de Ae-sun em diferentes etapas de sua vida. Inicialmente acompanhamos a Ae-sun de sete anos que havia perdido seu pai e estava lidando com uma família fraturada e uma mãe batalhadora que buscava o melhor para sua filha, vivendo na ilha de Jeju nos anos 1960. Também somos apresentados a Gwan-Sik e a sua amizade com nossa protagonista. Ainda no primeiro episódio os vemos transformarem-se nos adolescentes representados por IU e Park Bo-Gum. Os dois atores brilham completamente nesses papéis e entregam personagens magnéticos, conseguindo que o público torça para o casal mesmo que esteja explícito que ao ficarem juntos suas vidas serão difíceis, já que a obra se trata de um amor resiliente e de superação.
“O mesmo céu, as mesmas estrelas, gravados nos mesmos corações” – Primavera
É extremamente tocante ver como as várias tragédias que os assolam os unem cada vez mais, ao invés de afastá-los, a dedicação que eles têm um ao outro e a seus filhos é o que lhes permite lutar por sua sobrevivência a qualquer custo.

O roteiro de Kim Won-suk é sensível e cativante , é impossível não se identificar com algum dos dramas familiares representados. Para escrevê-lo, ela se inspirou na vida real de Hong Kyung-ja, que assim como nossa protagonista é uma mulher forte que permaneceu resiliente apesar das intempéries que teve que enfrentar ao longo de sua vida. Há diversas similaridades entre a vida das duas, embora Won-suk tenha usado da liberdade poética para dar um tom mais dramático a sua história.
“Apenas fique pronto e vá. Comande o momento com tudo o que você tiver” – Outono
A obra retrata a vida na ilha de Jeju nos anos 1960, apresenta-nos a cultura local, suas tradições, suas supertições e costumes. Podemos conhecer através da série um pouco sobre a as Haenyeos – mergulhadoras coletoras de frutos do mar, Patrimônio Cultural Imaterial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) desde 2016; vemos Ae-sun conseguir um cargo inédito para uma mulher – fato que também foi baseado na vida real de Hong Kyung-ja – e como eram estabelecidos os papéis de gênero nessa década.
A trilha sonora traz canções coreanas para cada linha do tempo da série, a escolha de cada música nos faz imergir ainda mais nas emoções dos personagens e intensificam os sentimento apresentados nas cenas.
A série esbanja qualidade de produção, viajamos para diferentes épocas por meio dos cenários construídos. A fotografia é um espetáculo à parte, transmitindo as sensações e emoções dos personagens, assim como demonstra a beleza de Jeju e Seoul ao longo dos anos.
“Na esperança de que os nossos ecos flutuem e fluam até chegarem a você” – Verão
Em relação a atuação dos protagonistas, é simplesmente encantadora. IU brilha tanto como Ae-sun quanto como Geum-myeong e é notável a diferença na representação delas. Com Ae-sun, ela e Moon So-ri conseguiram equilibrar rebeldia e vulnerabilidade, a personagem é intensa, impulsiva e ao longo dos episódios conseguimos enxergar como as cicatrizes emocionais que ela carrega foram transformando sua personalidade. O Gwan-Sik de Park Bo-gum e Park Hae-joon tem uma presença contida porém marcante, o introspectivo de poucas palavras demonstra tudo o que sente por meio de suas ações, através da atuação e de gestos sutis eles conseguiram expressar as emoções do protagonista. Destacamos ainda a atuação dos filhos do casal e seus cônjuges, responsáveis por momentos de leveza, riso, romance e mais uma pitada de drama para a narrativa. A escalação dos atores foi certeira, mesmo aqueles que tiveram um pequeno papel conseguiram trazer um brilho a mais para a obra.
“Nas mudanças de estação eu tenho uma família que nunca muda”
A família não tem a intenção de se apresentar como perfeita, e esse ponto é crucial para nos enxergamos ali. Todos cometeram erros mas se protegeram e deram o seu melhor para cada um dos demais. Acompanhar o crescimento e o sucesso deles, depois de tantos infortúnios, foi gratificante.
Se a Vida Te Der Tangerinas é um drama autêntico sobre a vida familiar, sobre o luto e tentar novamente. Acompanhamos Ae-sun e Gwan-sik aprendendo a ser pais e cometendo erros, culpando e perdoando-se, priorizando seus filhos e um ao outro inúmeras vezes, sendo resilientes a cada nova tormenta. A fotografia impecável junto a trilha sonora intensificam as emoções que as atuações cativantes despertam em nós, torcemos para que eles fiquem bem, mas assim como na vida real, imprevistos acontecem e eles precisam recomeçar.
Nota:

Confira o trailer: